Cuidados no recebimento e devolução das peças evitam impasses entre locador e locatário

O sistema de escoramento metálico é composto por elementos de aço ou alumínio que servem de apoio às fôrmas para concreto com a função de sustentar as cargas e sobrecargas da estrutura e transferi-las ao chão ou ao pavimento inferior. O sistema pode ser usado em diversos tipos de obras – edifícios, obras industriais, barragens – e nas mais variadas aplicações – blocos de fundação, cortinas, pilares, vigas, lajes etc.

Embora a maior parte dos construtores opte pela locação desse material, o projetista Nilton Nazar, sócio-diretor da Hold Engenharia, afirma que a compra não é uma má opção quando se pensa no longo prazo: “É um investimento alto que leva anos para ser diluído e implica manter um galpão para fazer manutenção, repintar, engraxar, trocar peças, desamassar etc. Esse custo tem que ser levado em conta. Em compensação, a vida útil é muito longa”.

Haroldo Miller Júnior, presidente da Abrasfe (Associação Brasileira das Empresas de Fôrmas e Escoramentos), complementa: “Na locação, estão embutidos ainda os custos de projeto, assistência técnica e administração dos materiais. Comprar ou locar dependerá do tipo de obra, do prazo de utilização e da estrutura da empresa”.

Especificações

Os principais componentes do sistema de escoramento são as escoras pontuais, as torres e as vigas. As peças são distribuídas conforme projeto e dimensionamento específicos, e sua combinação pode variar para atender às particularidades de cada aplicação, seja um edifício ou uma obra de construção pesada. As torres, por exemplo, são usadas para vencer pés-direitos mais altos e possuem capacidade de carga superior às escoras.

Cotações de preços e fornecedores

Geralmente, o projeto de escoramento é feito pelo próprio fornecedor, portanto, é aconselhável contratar o sistema de dez a 15 dias antes da data prevista para o uso. No caso de obras de grande porte, esse prazo pode se estender para até um mês. Deve-se exigir do fornecedor a garantia dos equipamentos e o recolhimento da ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) do projeto.

Segundo Nilton Nazar, no contrato de locação é importante dar atenção aos custos de reposição de peças eventualmente danificadas ou extraviadas. Esses valores podem ser muito superiores ao custo de aquisição, pois levam em conta o lucro cessante – ou seja, o extravio ou dano do material impede a empresa locadora de lucrar com outros aluguéis.

Logística

Embora os fornecedores de escoramentos estejam mais concentrados nas regiões Sul e Sudeste do País, há filiais e representantes que atendem a todo o território nacional. Na escolha, é importante, “em primeiro lugar, optar por uma empresa com comprovada capacitação técnica e fornecer todos os projetos [da estrutura] e os cronogramas de utilização de material”, aconselha Haroldo Miller.

O equipamento é retirado pelo locatário no depósito do fornecedor e deve ser contado e conferido no ato da entrega. “Os fornecedores têm pedido que um fiscal da construtora vá até o depósito e acompanhe o material até o canteiro. Se isso não for possível, o material deverá ser conferido minuciosamente no local da obra, com a fiscalização da construtora e do fornecedor”, adverte Nazar.

Caso haja alguma irregularidade nas peças entregues, o fornecedor deve ser contatado imediatamente, para que o locatário não seja obrigado a pagar indevidamente por mau uso. O material não pode apresentar soldas trincadas nem corrosão; a pintura ou galvanização devem estar conservadas; as roscas, lubrificadas, e as peças não podem estar deformadas, empenadas ou apresentar resíduos de argamassa ou concreto.

O transporte fica a cargo do locatário e os componentes devem ser organizados, de preferência, em paletes. As peças menores, de fácil extravio e alto custo de reposição, devem ser transportadas e armazenadas em caixas ou sacos e, após a execução de cada pavimento, devem ser recolhidas de volta ao recipiente para prevenir perdas ao longo da obra.

O armazenamento deve ser feito em local fechado, com acesso controlado por uma só pessoa – normalmente, o almoxarife da obra – a fim de se evitarem furtos. Após o uso, recomenda-se lavar as peças para eliminar restos de concreto e argamassa. Engraxar as roscas é outra medida preventiva que pode ser adotada.

Cuidados durante a instalação

A montagem do cimbramento é feita pela equipe da construtora, sob supervisão técnica do fornecedor. O projeto de montagem deve ser seguido rigorosamente com relação ao posicionamento das torres, escoras e vigas, obedecendo aos espaçamentos máximos determinados. Haroldo Miller conta que os erros mais comuns se devem a adaptações na montagem, desrespeitando o projeto do fornecedor.

A qualificação da mão de obra é outro ponto crítico, bem como erros na execução de travamentos e erros na sequência de montagem. O professor da Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Bruno Ribeiro, lembra ainda que é preciso verificar as condições do piso e, em terrenos sem contrapiso, utilizar placas de apoio.

Normas técnicas

  • NBR 15696:2009 – Fôrmas e Escoramentos para Estruturas de Concreto – Projeto, Dimensionamento e Procedimentos Executivos
  • NBR 8800:2008 – Projeto de Estruturas de Aço e de Estruturas Mistas de Aço e Concreto de Edifícios
  • NBR 14931:2004 – Execução de Estruturas de Concreto – Procedimento

Checklist

  • Deve-se exigir do fornecedor a garantia do produto e o recolhimento da ART do projeto.
  • Na entrega, um fiscal da construtora deve conferir minuciosamente a quantidade e o estado de conservação das peças.
  • Peças menores devem ser transportadas e armazenadas em caixas ou sacos para evitar perdas.
  • A montagem deve ser feita sob supervisão técnica do fornecedor e o projeto do cimbramento deve ser seguido à risca.
  • A NBR 15696:2009 regula a utilização de fôrmas e escoramentos para estruturas de concreto.

Entrevista com Nilton Nazar, projetista de fôrmas.

Quais os cuidados a serem tomados no dimensionamento do escoramento?

Tanto o escoramento de alumínio quanto o de aço precisam ser dimensionados em função das características mecânicas de cada material. É importante observar também o tipo de terreno, quando o cimbramento for executado diretamente sobre o solo, sem piso concretado. Conforme a resistência do solo é preciso aumentar o número de escoras para distribuir melhor o peso da estrutura. Esse cuidado muitas vezes não é tomado por falta de integração entre o construtor, o fornecedor e o consultor de solo

E o tipo de fôrma influencia no projeto do escoramento?

Sim, influencia. Se você for usar, por exemplo, uma chapa de madeira suportada por um cimbramento metálico, o espaçamento desse cimbramento deve ser coerente para não permitir que a chapa deforme. Tem que haver uma compatibilização entre um e outro.

O tipo de concreto também impacta no dimensionamento?

Sim. A velocidade de concretagem e a trabalhabilidade do concreto influenciam na pressão das fôrmas. Quanto mais fluido e mais rápido, maior a pressão. Isso também pode afetar os espaçamentos entre as escoras. Se a concretagem for muito rápida, esses espaços precisam ser menores.

Quais os erros mais comuns?

Problemas decorrentes de falhas no projeto têm sido raros, pois já possuímos fornecedores com excelentes corpos técnicos no mercado. Os problemas mais recorrentes são os relativos à devolução dos materiais, normalmente por erros no recebimento, armazenamento, por mau uso, ou pelos três motivos em conjunto. Isso tem causado enorme desgaste na relação entre consumidores e fornecedores.

Fonte:

Revista Construção e Mercado