Existem dois selos principais no mercado de construções sustentáveis. O americano Leed (Leadership Energy and Enviromental Design), concedido pelo Green Building Council Brasil, e o Aqua (Alta Qualidade Ambiental), da Fundação Vanzolini. Somando os dois, houve crescimento de 16% no segmento em 2013. Foram certificados 301 prédios verdes contra 259 no ano anterior. As obras concentram-se no Estado de São Paulo.
No caso do Leed, representam 60%, com 107 registros em 2013. Para o Aqua, a participação foi de 41%, com 51 selos: destaque para os 36 empreendimentos na capital, que respondeu por 70% do total do Estado.
A briga de mercado entre os dois principais selos verdes esquentou. Desde 2007, quando o primeiro edifício sustentável do Brasil, o ABN Amro Bank, recebeu certificação Leed, o segmento somou R$ 16,3 bilhões, tomando como base o valor estimado de vendas dos imóveis, segundo estudo da EY feito no fim do ano passado.
Em tese, de 0,5% a 1% desse valor – ou seja, de R$ 80 milhões a R$ 160 milhões – foi destinado ao pagamento dos serviços de consultorias, que buscam a chancela verde para os empreendimentos interessados, e para entidades certificadoras.
O americano Leed detinha a hegemonia em solo nacional. Em 2013, porém, o Aqua – que se originou do modelo francês Hqe (Haute Qualité Enviromentale) e foi totalmente adaptado à realidade brasileira em 2008 – certificou 124 empreendimentos. Foi um salto de 210% em relação aos 40 edifícios do ano anterior.
Na contramão do crescimento do mercado, o Leed tropeçou no andaime e caiu 19%, comparando os 219 registros de 2012 com os 177 do ano passado. O selo americano manteve a liderança, mas o Aqua está subindo.
Diretor comercial da Sustentech desde dezembro, Marcos Casado, que era diretor técnico do Green Building Council Brasil no ano passado, demonstrou surpresa com a queda. Ele destacou o alto crescimento do rival do selo americano. “Nos projetos da Sustentech, hoje é praticamente 50% Leed e 50% Aqua”, diz, referindo-se aos trabalhos da sua consultoria.
Em março, o selo da Fundação Vanzolini passou a se chamar Aqua-Hqe. “Agora, o cliente recebe o Aqua tradicional nas 14 categorias de desempenho e o Hqe, da Cerway, igual ao do mundo inteiro”, diz o coordenador executivo da certificação, Manuel Martins. “Os critérios anteriores foram aperfeiçoados e alinhados com esse padrão internacional.”
Na opinião de Martins, uma das razões para explicar o crescimento do Aqua foi “a conscientização dos empreendedores e o reconhecimento do impacto positivo do Aqua no valor agregado dos produtos das construtoras”. Sua expectativa é de que empreendedores e o público incorporem a exigência da sustentabilidade na decisão de compra.
Do total de 215 empreendimentos já certificados pela Fundação Vanzolini desde 2008, 109 são edificações residenciais.
Operação
Uma tendência do movimento de construção sustentável é a forte preocupação com a operação predial, diz o diretor do GBC Brasil, Felipe Faria. “A tecnologia monitora o consumo diário do prédio.” Em caso de necessidade de reparo, o sistema identifica por que aumentou o gasto, onde está a falha e o que precisa ser feito para corrigir. “O foco está na economia operacional”, enfatiza Faria.
O iTower, em Alphaville, e o The One, em São Paulo, são exemplos de empreendimentos certificados já entregues pela Odebrecht Realizações Imobiliárias. O primeiro em 2011 e o outro em 2012. Mas não há dados para conferir os benefícios, em termos de redução no uso de água e menor gasto de energia, previstos na certificação.
É difícil porque a empresa não tem mais contato com o empreendimento após a entrega”, diz o diretor de incorporação da Odebrecht, Saulo Nunes. “Não temos estudo para verificar como está o desempenho, até porque os dois empreendimentos têm pouco tempo de operação para constatar essa média.
Problema
O diretor de sustentabilidade do Secovi, Hamilton de França Leite Jr, admite que a falta de dados para comprovar vantagens econômicas dos prédios verdes é um grande problema. “Uma coisa é falar que nos Estados Unidos o pessoal economiza até 50% de água e 30% de energia, mas aqui não temos números reais para transmitir aos clientes”, argumenta. “Só vamos ter dados brasileiros daqui a três ou cinco anos.”
Manuel Martins explica que a certificação Aqua-Hqe ocorre nas três fases da obra: anteprojeto, projeto e construção. “Quando está pronto e entregue, fazemos a ultima verificação, e não voltamos lá”, explica. “Cabe aos proprietários, usuários e gestores prediais manter o empreendimento funcionando como foi construído e certificado, tal como o previsto.”
Marcos Casado, da consultoria Sustentech, afirma que a premissa do Leed plaque, lançado nos EUA no final de 2013, é aferir os dados reais do edifício. “Em dois anos, deverá estar consolidado e dará respostas que a gente precisa.” Casado diz que foi “exigência” do mercado. “Começaram a medir o desempenho de prédios certificados entregues em 2010, por exemplo, e perceberam que era igual ao de um prédio que não tinha o selo.”
Segundo ele, por falhas operacionais, deixaram de fazer o que foi projetado para o prédio. “Projetam uma Ferrari e dão para alguém acostumado a dirigir Fusquinha.”
Fonte:
Obra 24 horas