Uma Berlim “translúcida”

Em Spreebogen encontra-se a maior e mais moderna estação de passagem de trens da União Europeia, combinando a arquitetura arrojada com as exigências de mobilidade do século XXI. Diariamente, cerca de 1.100 trens de longa-distância, regionais e do metrô circulam nas 14 plataformas distribuídas em dois níveis diferentes.

Com a nova estação de Berlim, a baldeação de trens se tornou mais fácil e as viagens, mais curtas. O design moderno melhorou a qualidade dos serviços oferecidos, permitindo maior conveniência e segurança aos usuários.

Logo após a queda do Muro de Berlim, em 1989, os urbanistas do Senado Alemão iniciaram o desenvolvimento de um projeto de transportes públicos para a então “Berlim unificada”. Este projeto levou à criação do “conceito cogumelo”, que previa uma “estação de cruzamento de trens” no lugar da antiga Lehrter Stadtbahnhof. Dentre as premissas deste conceito, ela deveria servir tanto como estação de longa-distância como regional, oferecendo a opção de baldeação para o Marcus Bredt / gmp trecho férreo local e o metrô. Em junho de 1992, o Governo aprovou sua construção e lançou o concurso para a escolha do projeto arquitetônico para a Estação de Lehrte, também chamada de Estação Central de Berlim.

Erguida em local histórico no Distrito de Tiergarten, a Estação Lehrte chama a atenção por sua portentosa arquitetura filigranada, composta basicamente por estruturas em aço e vidro. Espaçosa e repleta de luz natural, que adentra os ambientes através dos átrios envidraçados, a estação se destaca na paisagem berlinense unificada e serve como símbolo do elo entre as áreas antes separadas pelo muro. O saguão da estação é formado por duas estruturas arqueadas de 46 m de altura que acentuam a característica em formato de cruz da estação. Para os arquitetos da Gerkan, Marg & Partners – GMP, de Hamburgo, o fator determinante da concepção arquitetônica do projeto era a importância da nova estação ser a interface de uma Europa que se torna cada vez mais integrada.

Outra característica do projeto é a opção pela transparência nas coberturas e paredes laterais, que, segundo os arquitetos Meinhard von Gerkan e Jürgen Hillmer, foi pensada para permitir que seus usuários encontrem seus destinos com facilidade. A nova estação tem uma área total de 175 mil m², divididos entre lojas e gastronomia (15 mil m²); escritórios (50 mil m²); uso ferroviário operacional (5.500 m²); e circulação (21 mil m²). As plataformas cobrem uma área de 32 mil m² e a garagem compreende 25 mil m².

Átrios transparentes

Uma cobertura em aço e vidro com 321 m de comprimento desenvolve-se sobre o extenso saguão, intersectado pelas duas fileiras de edifícios em arco, definindo sua localização e alinhamento à parte norte-sul da estação, localizada no subsolo. O átrio da face norte-sul, com 45 m de largura e 159 m de comprimento, encontra-se entre essas fileiras de edifícios e também recebeu cobertura em vidro, em forma abobadada, e está conectado aos edifícios laterais em arco, servindo como “conexão” entre a histórica área governamental de Berlim e a região urbana. A superfície de vidro abobadada da cobertura é suportada por vigas vagonadas de 4,70 m de altura.

Na área leste-oeste – linha urbana –, uma estrutura em balanço forma a passarela que se estende por 87 m, unindo seis vias e três plataformas situadas no meio da construção, e cobertas com uma estrutura leve, em forma de concha, abobadada em três direções. Foram utilizadas 85 mil toneladas de aço para a estrutura externa. O aço também foi utilizado em seis elevadores panorâmicos que ligam as plataformas da estação norte-sul com os níveis das plataformas da linha urbana leste-oeste.

Embora os alemães e europeus que circulam por Berlim tenham esperado dez anos para desfrutar a Estação Central (a obra aconteceu entre 1996 e 2006), ao seu término tornou-se a maior estação de cruzamento de trens da Europa, servindo como um importante centro de transporte e de uso comercial, integrando-se ao complexo de edifícios que unem o passado e o presente berlinenses. (E.F.)

Fonte: Revista Arquitetura & Aço – Edição 24 – Dezembro/2010