Pavilhão e Auditório Rafael dei Pino

Como se fossem galhos de árvores, robustos perfis metálicos formam a estrutura aparente do pavilhão e Auditório Rafael dei Pino, na capital espanhola. Curva e inclinada, ela sustenta as lajes dos cinco pavimentos e abraça a fachada dupla revestida com vidros transparentes, definindo a estética da edificação.

O uso de tecnologia de ponta, com programas informatizados de corte a laser, permitiu a usinagem das peças de aço de diferentes dimensões que compõem a estrutura aparente do Pavilhão e Auditório Rafael dei Pino, projetado pelo arquiteto Rafael de La-Hoz. O prédio de cinco andares, com fachadas de vidro transparente, localiza-se em uma das principais avenidas de Madri, no antigo jardim de um palacete projetado em 1907 pelo arquiteto J. L. Salaberry e agora restaurado por La-Hoz. Duas fachadas voltam-se para as ruas Fortuny e Rafael Calvo, uma terceira para o palacete e a quarta para um edifício vizinho. As duas primeiras são planas e verticais, enquanto a face de vidro oposta à Rua Fortuny é inclinada e possui leve curvatura positiva (convexa), reconstruindo dessa forma o gabarito requerido pela norma. A proposta do arquiteto era criar fachadas de vidro transparente e incolor, quase etéreas, em contra posição à forte presença dos pilares que partem do chão e aumentam de densidade à medida que avançam na altura. As lajes dos cinco pavimentos estão ancoradas nessa estrutura de aço.

O sistema de fachada dupla do envoltório atende às exigências de sombreamento e conforto acústico e para sua execução foram utilizadas chapas de vidro extraclaro (com baixo conteúdo de ferro), com a altura total de cada andar. Os elementos de ancoragem foram chumbados nas lajes de concreto armado, durante a construção. O nó central dessas fachadas é constituído pelo detalhe horizontal, que contém o suporte dos vidros, as passarelas e os seus respectivos suportes, além das aberturas de entrada e saída de ar, e a ancoragem de todo o sistema à estrutura primária do prédio.

 

Segundo o arquiteto Guillermo Marshall, do Estúdio Marshall & Associados, responsável pelo projeto e engenharia das fachadas, a superfície total de fachada não ultrapassa 2,5 mil metros quadrados, o que permite considerá-la, para efeito de prevenção de incêndios, como um só setor, dispensando a instalação de painéis do tipo RF e possibilitando a transparência que a caracteriza acentuada pela ausência total de elementos metálicos verticais. Todos os elementos foram colocados seguindo as linhas das lajes. O acesso à câmara entre fachadas, para serviços de limpeza e manutenção, é feito por duas portas em cada andar.

 

Estudos baseados no método de análise de elementos finitos mostraram que na face externa – onde as chapas de vidro são maiores que na interna – as deformações devido a cargas do vento eram excessivas, explica Marshall. Para diminuí-Ias, foram examinadas várias propostas. Adotaram-se, ao final, pequenas presilhas montadas sobre peças metálicas verticais, colocadas em coincidência com as uniões dos vidros e apoiadas nas passarelas de manutenção.

Uma gestão adequada permite o aproveitamento da energia solar incidente nas fachadas duplas. No verão ocorre um refrescamento da fachada e melhora substancial da ventilação natural. Além disso, dispositivos de controle solar podem ser instalados na câmara intermediária, mantendo o excesso de calor fora do prédio. Entre as duas peles de vidro, eles ficam protegidos de intempéries, facilitando o serviço de limpeza e manutenção. No inverno, a energia é aproveitada de duas formas: com a diminuição das perdas energéticas do prédio graças ao excelente valor U obtido e com a condução para o interior da energia solar capturada pelas fachadas devido ao efeito estufa.

Os estudos e o desenvolvimento dos projetos, bem como a execução das fachadas, foram acompanhados por profissionais do escritório de arquitetura e por projetistas da empresa responsável pela fabricação e montagem. A construção da fachada foi determinada pelo avanço da instalação da estrutura primária do prédio, que, por não ser convencional, exigiu tempo pouco habitual. A montagem dos pilares foi feita por partes soldadas em obra, com cada pilar tratado como uma verdadeira escultura. Os vidros externos da face inclinada são curvos e inclinados, enquanto os internos são planos e inclinados, compondo um plano de apoio às árvores metálicas.

Ficha técnica

Obra: Pavilhão e Auditório Rafael del Pino
Cliente: Fundación del Pino
Local: Madri, Espanha
Projeto: 2005
Conclusão da obra: 2008
Área construída: 5.000 m²

Equipe técnica

Arquitetura: Rafael de La-Hoz (autor), Manuel Doménech, Antonia Salvá e Carlos Burguete
Dante Frascaroli e Flavia Toselli (colaboradores)
Engenharia de instalações: Urculo PGI e Departamento Técnico da Ferrovial
Estruturas: Pondio Ingenieros – Juan Calvo
Estrutura metálica: Metalcom
Consultores de fachadas: Estudio Marshall & Asociados

Fonte: Revista Finestra – 2010
Reportagem: Cida Paiva
Fotos:
Roland Halbe