Além da pureza do metal, é importante saber se o fabricante não está menos cobre do que o necessário para evitar acidentes
Há quem acredite que os fios e cabos elétricos são todos iguais, mas a verdade é que, entre outros fatores, uma das diferenças mais importantes que você deve prestar atenção ao comprar o produto está justamente na matéria-prima principal desses condutores: o cobre.
O cobre é um elemento químico da família dos metais que ocorre naturalmente em nosso planeta, cujas fontes variam desde pequenos vestígios a ricos depósitos de minas. A maioria das minas opera com concentrações de cobre entre 0,2% e 0,8%, mas alguns dos corpos mais ricos em minério, localizados no centro da África Austral, podem conter de 5% a 6% de cobre. Para o Brasil, a grande referência de mercado para obter esse metal é o vizinho Chile.
O minério de cobre é triturado e lixiviado com uma solução de ácido. Da solução rica em cobre após a extração do solvente, é obtido o chamado complexo de cobre. Em um processo de eletrólise, o metal é recuperado como cátodo com 99,9% de pureza, índice adequado para o uso elétrico. O problema é que nem sempre é este o grau de pureza do cobre encontrado em fios e cabos elétricos no mercado brasileiro e latino-americano, resultado em instalações elétricas mal dimensionadas e, sobretudo, inseguras para os bens e as pessoas.
As normas de instalação brasileiras não especificam a obrigatoriedade da pureza do cobre dos condutores elétricos de forma direta. Estas normas, nas partes que tratam dos tipos de condutores elétricos da instalação, especificam que os cabos devem atender as suas respectivas normas de construção/fabricação. Por sua vez, as normas de construção/fabricação especificam as resistências elétricas máximas permitidas para os condutores dos cabos elétricos.
“O parâmetro de resistência elétrica está diretamente relacionado com o grau de pureza e/ou quantidade de cobre contido no condutor elétrico”, explica Marcondes Silvestre Takeda, gerente da engenharia de aplicação do Grupo Prysmian. “A medição da resistência elétrica é muito mais fácil e prática quando comparada aos testes químicos e/ou físicos de espectrometrias em laboratórios específicos para verificação da pureza do cobre”.
Em fábrica, caso o teste de resistência elétrica apresente resultado superior ao máximo estabelecido pela norma, o fabricante já terá o indicativo de que o cobre está fora das especificações. Mas é o que acontece na prática?
“Infelizmente no Brasil é comum encontramos no mercado cabos elétricos com condutores fora da especificação das normas de fabricação, ou seja, a resistência elétrica está acima do valor máximo permitido”, alerta Takeda. “Este fato ocorre em sua grande maioria nos cabos elétricos com tensão de isolação 750V de seções (bitolas) finas até 10mm2, os quais são amplamente utilizados nas instalações elétricas dos circuitos de força e iluminação, residencial, comercial e até mesmo industrial”.
A baixa qualidade do cabo está associada não somente a impureza do cobre, mas também à utilização de menos cobre na construção dos condutores – os chamados “cabos desbitolados”. No pior dos casos, podem haver produtos combinem as duas situações, uma grave ameaça à segurança das pessoas, tornando necessária a compra de produtos certificados de fabricantes reconhecidos no mercado.
“Além do cliente/consumidor estar sendo enganado pelo fato do cabo, especificamente em relação ao cobre, não possuir a qualidade e/ou quantidade efetivamente declarada, muito mais grave é o risco da utilização deste produto nas instalações elétricas”, afirma Takeda.
“Cabo com condutor de cobre fora da especificação possui maior resistência elétrica, o que tecnicamente significa que a sua capacidade de conduzir a corrente elétrica é menor do que a aquela projetada para a instalação. A consequência será o sobreaquecimento do cabo, fato que, além de aumentar o consumo de energia, poderá até mesmo levar ao derretimento da sua isolação, levando ao curto circuito e assim originar um incêndio”, completa o gerente.