É entre as águas calmas de um lago e cadeias de montanhas no interior de Portugal que uma construção de aspecto singular está instalada. Idealizado pelas arquitetas da Belém Lima Arquitectos, o Cais de Bagaúste ganha um ar ainda mais peculiar refletindo a luz do sol que recai sobre o lago durante o dia.
O cais fica situado na margem esquerda do rio Douro na albufeira da Régua, um local inusitado onde as pessoas se surpreendem ao encontrar uma estrutura toda trabalhada em aço e metal em substituição aos velhos cais de madeira portugueses.

‘’O Rio Douro, no percurso de Barca de Alva até à sua foz, no Porto, é contemplado por uma imensidão de paisagem, desde encostas e precipícios, desfiladeiros graníticos, ou então graciosos vales recheados de paisagens verdejantes.’’ O Cais de Bagaúste é um ícone da arquitetura portuguesa e reúne em sua aparência um mix do minimalismo e do modernismo de duas eras que se integram e expõe sua casca metálica com orgulho em meio à natureza.

     

Sem o uso de concreto ou algo mais além de vigas de aço e paredes revestidas com alumínio, tanto o exterior quanto o interior da construção apresentam um visual intimista e simples, ainda que único. A única exceção está em suas paredes de vidro localizadas na parte do projeto onde funciona o café e o bar, simultaneamente.

Certamente, a mistura de funções nessa construção já evidencia todo o conceito por trás de sua idealização. Tudo aqui tem mais de uma faceta e atribuição. Inclusive o âmago da construção, os materiais utilizados que fizeram possível a existência desse Cais. As vigas e paredes, e o modo como ambas estão dispostas, são ao mesmo tempo partes essenciais do edifício, e peças decorativas que torna dispensável o uso de mais cores, quadros e itens decorativos afins.

     

 

Portugal é um país tradicionalmente católico e não é de admirar a semelhança do Caís com uma pequena capela de aço à beira do lago de águas tranquilas. Através dessa obra moderna e arrojada podemos perceber que o amor às tradições ainda permanece inalterado.

     

A harmonia improvável do excesso das linhas retas mescladas ao visual curvilíneo das montanhas que circundam o armazém de canoas, que também serve de bar e café.

 

No interior da construção, as formas geométricas e exatas ganham ainda mais destaque

   

 

As vigas de aço que servem para dar sustento às paredes e telhado, também dão ao ambiente um aspecto singular. As estruturas, que formam um X ao redor das duas paredes mais visíveis, captam a atenção de quem quer que entre no armazém. Indo em direção ao teto, essas formações se repetem dando alguma monorritmia à aparência do ambiente. Até mesmo os suportes para canoas, dispostos em seus pontos de forma ordenada, se apresentam ao olhar dos admiradores como partes integrantes da decoração.

O chão do edifício ser o mesmo que o do cais – aquela madeira reconfortante que lembra a beira de praia e lagos -, é o lembrete da paisagem do lado de fora que o visitante encontra lá dentro da construção. Então, mesmo em seu interior, a construção se apresenta como um elo que conecta a paisagem idílica e natural do lado de fora com a tecnologia e criação humana.

     

O telhado certamente é uma das peculiaridades mais chamativas, logo à primeira vista. Seu formato triangular bastante fechado, como uma flecha em direção ao céu, dá à casa um visual marcante ao mesmo tempo que incomum. É como sua identidade.

Revestido também em alumínio, a estrutura espelha constantemente a luz solar, criando uma imagem que a construção não conseguiria caso outro tipo de formato fosse escolhido em detrimento deste. O edifício se assemelha às antigas cabanas e casas de madeira, mas o destaque que seu revestimento em alumínio traz não deixa dúvidas do que se trata. É o moderno vestido num formato do passado.

     

Do lado de dentro, a sensação de inquietude causada pelo telhado não é muito diferente. Seu angulo interno incomum, quase que completamente fechado, forma um visual interessante junto as demais linhas retas disponibilizadas pelas barras de aço e estruturas que formam as paredes do lado de dentro.

E se do lado de fora toda a estrutura aparenta ser uma construção normal, essa impressão é quebrada logo que se entra pela porta do armazém de canoas. A composição visual do telhado e paredes é extasiante. Numa leve ilusão de ótica, a disposição do telhado junto às paredes apertadas e posição das linhas retas criam a impressão de que se está caminhando dentro de um longo túnel. Isso, ainda que a área total de todo o cais não passe de 5.000 m².

     

Ficha Técnica:

Nome: Cais de Bagaúste
Localização: Margem esquerda do Rio Douro
Arquitetas
Ana Coutinho e Cláudia Lopes
Escritório de Arquitetura: Belém Lima Arquitetos
Área :5.000 m²
Ano de construção: 2013
Engenharia: Norvia Sa
Construtora :Santana&Ca
Materiais Empregados: Aço e vidro
Fotografias :Fernando Guerra | FG+SG

Redação : Equipe Portal Metálica – Lia Gonzaga