Cobertura metálica do Aeroporto Internacional de Carrasco, Uruguai

Elemento marcante, a cobertura metálica curva, branca e predominantemente horizontal foi a solução de Rafael Viñoly para minimizar o impacto da estrutura no entorno.

Valorizar os espaços públicos no interior do edifício foi uma das decisões do projeto para o novo terminal do Aeroporto Internacional de Carrasco, no Uruguai, assinado pelo arquiteto Rafael Viñoly, que, assim, criou um ambiente acolhedor tanto para os passageiros em trânsito quanto para visitantes. “No Uruguai, amigos e familiares ainda vão ao aeroporto para recebê-Io ou se despedir de você”, justifica Vinoly, nascido no Uruguai. Isso ajuda a entender a posição de destaque no projeto do terraço localizado no segundo andar. “É um local em que podemos sentar, tomar um café e conversar por horas”, afirma Marco Ortiz, diretor de projetos do escritório Rafael Vinoly Architects.

Distante cerca de 18 km do centro de Montevidéu, o projeto aeroportuário é o primeiro do tipo realizado pelo arquiteto uruguaio.

O edifício do terminal está dividido basicamente em três níveis: o piso térreo destinado ao desembarque dos passageiros; o primeiro piso com balcões de check-in e saguão de embarque; e, por fim, o segundo piso, onde está o terraço, que compõe com o primeiro nível um volume único, aberto, transparente e iluminado.

Do lado de fora, duas pistas de acesso de veículos – uma delas elevada ­servem os portões de embarque e desembarque. Na face voltada para a pista, quatro pontes telescópicas conectam a sala de embarque a aeronaves médias e grandes.

Esse projeto não tem o porte de obras internacionais similares completadas recentemente. Está bem longe do Terminal 3 do aeroporto de Beijing (2008), assinado por Norman Foster, com capacidade para receber 50 milhões de passageiros por ano em 2020. Também não se compara ao Terminal 4 do aeroporto Barajas (2004), em Madri, de Richard Rogers, projetado para receber anual­mente até 35 milhões de pessoas. No aeroporto de Carrasco, os valores são mais modestos – atualmente circulam por lá cerca de 1,2 milhão de passageiros a cada ano, pouco mais do que a movimentação do aeroporto de Viracopos, em Campinas, SP. Mas não são as dimensões as diferenças mais marcantes entre esses projetos e o de Viñoly. “Todos os aeroportos têm espaços públicos importantes, mas geralmente são dedicados a funções de comércio. Aqui, temos um espaço mais democrático, mais social”, afirma Ortiz.

O terraço de fato se assemelha mais a uma praça do que a um shopping center. A proposta do arquiteto era de que o local se configurasse como um espaço de convivência para viajantes e não viajantes. Para atingir seu objetivo, concebeu um ambiente aberto e ajardinado. Existe apenas um restaurante instalado ali – o restante da área é livre, e parte dela pode receber, em ocasiões especiais, exposições promovidas por órgãos governamentais ligados à cultura.

O fechamento envidraçado inclinado e os delgados pilaretes metálicos de sustentação da cobertura conferem transparência à estrutura do edifício. Isso permite que se tenha a partir dali uma visão panorâmica da pista do aeroporto e do horizonte da região metropolitana de Montevidéu. A luz natural também tem trânsito livre no interior do terminal, e sua presença é potencializada pela reflexão em revestimentos de cor predominantemente branca. A cobertura, que se projeta em balanço para além dos limites da planta do terraço, protege o local da incidência direta dos raios solares em horários críticos da manhã e da tarde e evita que o edifício se transforme em uma estufa.

Cobertura

Externamente, o elemento arquitetônico mais sobressalente do novo terminal é sua cobertura, uma espécie de casca com cerca de 40 mil m2 que protege a edificação. O contraste entre seus 365 metros de comprimento e seus 37 metros de altura (no ponto mais alto) ressalta a horizontal idade do volume. Vinoly não desejava que seu projeto assumisse papel de destaque no entorno do aeroporto. Por isso, o formato curvo e irregular e a cor branca tentam minimizar o impacto da estrutura na paisagem. “Não queríamos fazer um edifício estranho à vizinhança, mas que fosse uma continuação do terreno”, afirma Ortiz.

Durante toda a execução do projeto houve uma equipe do escritório de Vinoly acompanhando in loco o desenrolar dos trabalhos. Assim, foi possível explicar ao cliente – Puerta del Sur, empresa proprietária do aeroporto – porque era necessário dar tanta atenção a detalhes que, ao final da obra, determinariam a qualidade do projeto. Entre esses detalhes estava o acabamento da cobertura metálica. O revestimento, feito com mantas sintéticas de impermeabilização termoplástica (TPO), cumpre ao mesmo tempo as funções de impermeabilização e de acabamento final.

O produto, inclusive, foi fornecido por uma empresa brasileira. “Procurávamos um material que fosse o mais uniforme possível”, afirma Ortiz. Segundo o diretor do escritório, os arquitetos residentes vieram várias vezes ao País para desenvolver a técnica exata que se empregaria na execução do acabamento no telhado do terminal. “Este é um projeto muito latino-americano, pois envolveu não apenas o trabalho de empresas uruguaias como também brasileiras e argentinas”, afirma Ortiz.

Dados da Obra

Localização: Cidade de Ia Costa, departamento de Canelones, região metropolitana de Montevidéu, Uruguai
Área Construída: 32 mil m2
Investimento: 165 milhões de dólares

Ficha Técnica

Arquitetura: Rafael Vinoly Architects PC
Arquitetura Associada: Carla Bechelli
Cliente: Puerta del Sur
Projeto Estrutural:Thornton Tomasetti Group e Magnone-Pollio Engenheiros Civis
Projeto de Instalações: Luis Lagomarsino & Associates
Projeto de Elétrica:Ricardo Hofstadter
Projeto de Hidráulica: Jack Yaffe Berro
Consultor de Normas Técnicas: Hughes Associates
Orçamento: Campiglia Construcciones

Fonte:

CBCA Publicação: Fev/2010