Celulas independentes

A cobertura ventilada e leve atrai as atenções. Em seus 250 m, abriga uma praça linear que conecta os elementos do programa. A praça, as quadras e as salas recebem com cor e dinamismo usuários ávidos por lazer, esporte e cultura, itens essenciais à conquista da independência e ao espírito comunitário dos cidadãos de região carente de Guarulhos.

Educação e cultura, em ambiente arquitetônico exemplar e área urbana necessitada. O Centro de Arte e Educação dos Pimentas, situado no bairro de mesmo nome, em Guarulhos, atende a uma população carente de equipamentos comunitários voltados ao ensino, lazer e esporte. O projeto é do escritório Biselli e Katchborian, com a prefeitura do município. Demanda não falta. “Nos primeiros dias de funcionamento já havia uma fila de duas mil pessoas para se inscrever nas atividades desenvolvidas pela escola”, afirma o arquiteto Mario Biselli. O alcance social deste projeto é significativo, pois ele corresponde a “uma área pedagógica importante, enquadrando-se no projeto dos CEUs (Centros Educacionais Unificados, da prefeitura de São Paulo), com muito esporte e lazer, e do Sesc, com muita cultura”, compara Mario.

A arquitetura foi em boa dose determinada pelas características do terreno estreito e comprido, de 30.780 m². Assim, a solução adotada foi implantar a escola acompanhando o desenho do lote, ou seja, em uma configuração linear na qual se destaca a grande cobertura metálica de 250 m de comprimento e 30 m de largura. “Com um terreno de 300 m de profundidade, nossa idéia era criar uma grande praça longitudinal, linear e coberta, constituindo-se em espaço público importante para um bairro cuja população é de aproximadamente 400 mil pessoas”, declara o arquiteto.

A cobertura é dotada de sistema de sheds que fornecem iluminação ao espaço interno e composta por telhas metálicas de aço tipo painel com isolamento térmico e acústico, apoiadas a cada 6 m em vigas-vagão metálicas com mão-francesa, tendo 20 m de vão e 5 m de balanço em ambos os lados. Essas telhas fazem também o fechamento dos espaços laterais entre a cobertura metálica e os blocos dos diferentes setores, executados em alvenaria e concreto moldado in loco. As janelas das salas de aula voltadas para a face oeste receberam proteção com brises de alumínio instalados nos locais onde não há fechamento em U-Glass. Fixados externamente, criam um ritmo peculiar e valorizam plasticamente o conjunto.

Na entrada da escola, ao sul, a cobertura se prolonga em um balanço de 18 m, com função de marquise, fazendo o sombreamento para a praça de acesso. Na outra extremidade, a solução se inverte: há um fechamento com parede inclinada a 45° onde está a quadra poliesportiva coberta.

As bordas longitudinais dessa cobertura abrigam todos os setores da escola, de acordo com suas especificidades. No piso térreo da face oeste estão biblioteca, administração e restaurante, e no pavimento superior ficam o mezanino da biblioteca e as salas de aula. Na face leste localizam-se os volumes das salas multiuso, ginástica olímpica, dança e auditórios, todos com pé-direito duplo e dotados de mezanino. Esses espaços são articulados por um vazio central com pé-direito de 11 m que culmina na área reservada à quadra poliesportiva, onde o pé-direito aumenta para lS m, dada a natureza do seu uso.

Complementando a área destinada às atividades de lazer e esportes, há duas quadras poliesportivas em uma das laterais externas e um conjunto aquático de três piscinas, incluindo uma infantil, na outra lateral. Os vestiários que servem aos usuários das piscinas ficam no subsolo.

O vazio central é uma praça, local onde acontecem os momentos de bate-papo e encontros dos jovens. Há bancos de concreto pintados em cores alegres entremeados pelo verde repousante de gramados, em um layout moderno e agradável que sugere descontração e bom humor. Também é nessa praça térrea que estão os acessos ao piso superior, como escadas e rampa metálica sustentada por uma parede de concreto que recebeu recorte arredondado, em efeito que nos remete às aberturas de Siza no Museu Iberê Camargo (AU 171) – aberturas que nos fazem ver além do espaço em que estamos

A atmosfera Iúdica desse vazio central é acrescentada pelas cores fortes e vibrantes das paredes internas que recebem tons de verde, laranja e amarelo. “Trata-se de uma solução bem brasileira, facada na cobertura – solta, ventilada, leve e capaz de acoplar os elementos do programa como células independentes”, arremata o arquiteto Mario Biselli.

Ficha Técnica

Área do terreno: 30.700 m²
Área construída: 16.000 m²

Arquitetura: Biselli & Katchborian Arquitetos Associados
Autores: Mario Biselli e Artur Katchborian
Colaboradores: Paulo Roberto dos Santos Barbosa, Luiz Marino Kuller, Cássia Lopes Moral, Cassio Oba Osanai, Camila Bevilacqua de Toledo, Gabriel César e Santos, Ana Carolina Ferreira Mendes, Débora Pinheiro
Estrutura: Edatec – Enio Canavello Barbosa
Construçao: JZ Engenharia

Fornecedores

Concreto: Concreservice e Guarumix U-GLASS T2G
Caixilhos: Atenuasom
Gradil: Metalgrade
Tintas: Suvinil
Piscinas (Impermeabillzaçao/ Revestimento Cerámico/Equipamentos): Campestre Piscinas
Forros de madeira: OB Som
Porta de madeira: OB Som
Piso de madeira: Kok Sport
Forro de gesso: São Oimas
Vidros: Atenuasom
Telhas de PVC: Forte Engenharia
Estruturas metálicas: Forte Engenharia
Telhas metálicas: Forte Engenharia

Fonte:

Revista AU – Setembro/2010
Reportagem: Ledy Valporto Leal
Fotos: Nelson Kon