Em 1937 quando criou o contêiner e revolucionou o transporte de grandes cargas em navios e trens, o norte-americano Malcom McLean não poderia imaginar que décadas mais tarde ele serviria também como opção de moradia.

Elaboradas em aço, estas caixas retangulares são aposentadas após dez anos de uso. Ao notarem a enorme quantidade delas em bom estado nos depósitos, japoneses, ingleses e holandeses decidiram reaproveitá-las de outra maneira. E ao empilharem algumas unidades, montaram com o material os primeiros hotéis e vilas estudantis há cerca de uma década.

Logo, percebeu-se que os contêineres poderiam compor casas confortáveis e o conceito que ajuda a poupar recursos naturais e financeiros se espalhou por vários países. Por aqui, a primeira residência foi construída em 2011 pelo arquiteto Danilo Corbas, da capital paulista. “Meu interesse surgiu pela estética industrial e vontade de trazer essa linguagem para a arquitetura. Pesquisei e encontrei fora do Brasil algumas casas em contêineres e foi amor à primeira vista”, relata o profissional que já projetou três residências com o perfil.

Ainda raras no País, Corbas defende o uso destas habitações. “Elas oferecem rapidez na produção, limpeza na obra, pouquíssima geração de resíduos e reutilização de materiais. Resumindo, promovem sustentabilidade”.

O arquiteto Alexandre Hernandez, de Campinas, SP, que também já construiu uma morada em contêiner, informa que elas levam apenas 1/3 do tempo de uma obra comum para ficarem prontas. De acordo com o Corbas, é possível elaborar uma casa de 300 m² em apenas três meses.

“O custo varia muito, pois depende do projeto, indo dos mais convencionais (com o empilhamento regular das peças) aos mais audaciosos, onde a plástica pode colocar a construção bem próxima dos custos de uma em alvenaria”, informa Hernandez.

Detalhes da construção

Os contêineres podem ser obtidos junto as empresas de transporte marítimo ou leasing.

“A versão mais comum é a de aço sem revestimento interno. Porém, há opções com paredes mais espessas, devido ao isolamento térmico aplicado para levar produtos refrigerados. Estes são, consequentemente, mais raros e caros. As zonas portuárias são o lugar mais conveniente para buscar unidades com bom custo-benefício. A lei que regulamenta esse setor estabelece que a vida útil deles para uso comercial internacional é de, no máximo, dez anos e, por isso, apos esse período, há muitos em ótimo estado e com preços atrativos”, detalha o arquiteto de Campinas.

Apesar da aparente fragilidade, os contêineres são bastante resistentes e duram décadas. Hernandez só não indica o uso em regiões litorâneas devido aos efeitos prejudiciais da maresia.

Normalmente, estes projetos contam com fundações de sapatas corridas e brocas, que devem estar concentradas e serem proporcionais aos vertices do modelo utilizado. Tudo dependerá da quantidade de unidades que serão empilhadas e do tipo de terreno. “Sugiro um calculista estrutural para esta etapa”, afirma o profissional do interior paulista.

Para assegurar o conforto térmico dos moradores, são necessários materiais isolantes, como de vidro, rocha ou PET entre as paredes, que costumam receber acabamento final de gesso ou placas de fibrocimento. “Também é garantido por materiais refletentes e boas práticas durante o projeto, como implantação adequada, que respeite e tire proveito dos ventos predominantes, da melhor insolação, do uso de massas arbustivas, telhado verde etc”, explica Corbas.

Em geral, as instalações hidráulicas e elétricas são executadas do modo convencional, ficando embutidas entre a parede de aço externa e o acabamento interno.

Segundo o arquiteto da capital paulista, clientes de diferentes perfis estão procurando por estas casas. “São pessoas com interesse em sustentabilidade e condições de consumir esse tipo de estética, como artistas plásticos, publicitários, fotógrafos, designers, arquitetos e até mesmo médicos e advogados.”

Hernandez indica estes projetos para todos aqueles que possuem “orçamento limitado, prazo curto e, claro, uma excelente mentalidade para novas descobertas”.

Ao Modo Lego

Localizada no norte do Maine, nos Estados Unidos, esta casa assinada pelo arquiteto norte-americano Adare Kalkin, do escritório Architecture and Hygiene, chama atenção pela estrutura alaranjada de 4 mil m² formada por 12 contêineres reciclados. Por isso, foi batizada de 12 Container House.

Juntas, as estruturas sustentam os amplos vidros que levam vento e luz natural aos dois andares da residência. Em formato de “T”, o projeto foi ajustado de forma a integrar o interior ao exterior. Prova disso é que o pavimento térreo conta com aberturas para o jardim e duas escadas de aço no lado de fora levam ao segundo nível, onde os quartos estão localizados.

Para assegurar conforto térmico durante os dias frios, o piso de todos os ambientes é de concreto radiante e há uma lareira em cada andar.

 

Realidade Europeia

Sustentáveis e acessíveis, as casas em contêineres são bem mais comuns no Velho Continente. Alguns arquitetos, inclusive, se especializaram em construir com o material. É o caso de Patrick Par-touche, que além da residência em Lille, na França, planejou outras moradas com estas estruturas nas cidades de Arras e Lesquin. As grandes caixas de aço fazem parte da paisagem de vários países, principalmente, Holanda, Inglaterra e França.

Rusticidade Moderna

O arquiteto Adam Kalkin também é o responsável por este projeto que leva o nome de Casa da Velha Senhora (Old Lady House). Composto por 12 contêineres marítimos, fica em um lote super arborizado de três hectares na cidade de Califon, no estado americano de Nova Jérsei.

Apesar da aparência urbana industrial, incorporou-se naturalmente paisagem, que pode ser apreciada do interior pelos amplos panos de vidro. Instalados nas portas de correr de mogno, favorecem a entrada de luz e ventilação e tornam a permanência na casa mais agradável.

Os acabamentos internos fazem os moradores esquecerem que estão em contêineres. Os pisos ganharam acabamento de cimento queimado e todas as ondulações dos contêineres foram escondidas por drywall Assim fica ainda melhor aproveitar o living generoso com lareira integra do à moderna cozinha em ilha.

Bucólica

Esta charmosa residência vermelha foi criada a partir de oito contêineres. Situada em uma zona rural de Lille, na França, conta com vista para um amplo campo com vacas, que pode ser visto através das grandes esquadrias de vidro da fachada.

Com 208 m², foi montada em apenas três dias, com a ajuda de guindastes. O transporte das peças foi feito por caminhões.

Idealizada pelo arquiteto francês Patrick Partouche, possui fundações de concreto armado e telhado com armação metálica com telhas de terracota. As portas originais no nível do solo e superior podem ser abertas ou fechadas do lado de fora para conferir privacidade ou proteger da luz solar direta. Para assegurar temperaturas agradáveis, as paredes e os tetos receberam painéis de MDF pintados de branco, piso radiante e aquecimento elétrico.

Completa

Foram necessários seis contêineres de 40 pés para montar o lar ideal do jovem casal recém-casado e seu bebê, em Curitiba, PR. “Eles desejavam uma casa diferente e que fosse construída rapidamente”, afirma Danilo Corbas, arquiteto que assina o projeto.
As solicitações foram cumpridas perfeitamente com o uso das estruturas de aço. Apesar do projeto ousado, os proprietários requisitaram padrões estáticos mais conservadores.

E esta mescla, segundo Corbas, é o grande diferencial da casa de 240 m². Sendo assim, a fachada branca recebeu pintura branca e acabamentos em madeira. ao passo que os ambientes internos apresentam artigos decorativos tradicionais. “Nos pisos foram usados materiais comuns como porcelanatos e laminados. Já nas paredes, utilizei desde revestimentos cerâmicos até chapas de gesso acartonado pintadas.”

Fonte: CBCA/Revista Construir