Assinado por Marcos Favero, Andrés Passaro e Diego Portas, o Edifício Beta, na PUC-Rio, se confunde com a vegetação de seu entorno.

Estrutura metálica e integração ao entorno marcam edifício universitário, com projeto que privilegia a vegetação e libera o térreo apoiando o volume principal sobre quatro pilares metálicos

O edifício Beta, na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, é exemplo de adaptação ao entorno natural e construído. Entre a rua de acesso e a mata nativa aos fundos, o edifício aceita as contingências do espaço e não compensa o sítio limitado com elementos de destaque acintosos. Pelo contrário, incorpora o entorno em si, e assim desaparece harmoniosamente na paisagem. Ao desaparecer, e aí está o segredo, o edifício torna-se imediatamente objeto de atenção.

Para Marcos Favero, Andrés Passaro e Diego Portas, autores do projeto e professores da FAU na PUC-Rio, a palavra que carrega grande parte do conceito aplicado à construção, e seu grande trunfo, é o mimetismo. E mimetismo em biologia acontece quando um organismo se confunde com outro, ao incorporar padrões semelhantes de coloração, textura ou comportamento, de modo a conferir ao organismo vantagens adaptativas. Nesse caso, a adaptação total ao espaço. Esse “estado” do edifício contrapõe-se a muitas construções contemporâneas no Brasil, em que a linha de raciocínio segue a ordem de se sobrepor ao natural e afirmar sua identidade – leia-se estrutura – com energia.

O programa do edifício é simples: estúdios para aulas de arquitetura e design. Os arquitetos tinham que trabalhar com algumas condições importantes de espaço como um solo ruim, duas monolíticas construções laterais, um morro intensamente arborizado aos fundos e limitações de plano diretor, como gabarito, além do prazo exíguo. Como resposta, o grupo optou por um sistema construtivo seco e rápido, de estrutura metálica, e implantou o edifício de maneira a promover uma maior integração com o entorno. Em vez de aproveitar ao máximo o espaço oferecido, privilegiou a vegetação aos fundos e liberou o térreo apoiando o volume principal de dois pavimentos e 18 metros de largura sobre quatro pilares metálicos. O número reduzido de apoios também é resultado de uma contingência: o subsolo apresentava uma adutora que não apareceu nos levantamentos pré-existentes, o que impossibilitou a execução de mais fundações.

“O tempo todo negociamos com a realidade na busca por uma simbiose com a natureza”, explicam os arquitetos. Essa negociação produziu até uma pequena angulação em uma das fachadas laterais, para evitar que se podasse uma árvore vizinha ao edifício.

A busca pela eficiência energética foi uma das prerrogativas dos arquitetos. Para minimizar o uso de ar condicionado, foi definido um sistema de fachadas que tirasse partido das condições de insolação e ventilação existentes. As faces frontal e posterior, voltadas para áreas de maior ventilação, receberam múltiplos layers. O primeiro plano de fachada, em ambos os lados, é formado por esquadrias com vidros basculantes que permitem ventilação cruzada e oferecem a transparência necessária. A segunda camada é formada por telas perfuradas com quadros modulados de fábrica e, por fim, somente na fachada frontal, de maior insolação, uma estrutura metálica engastada no piso do primeiro pavimento e do teto do segundo pavimento destaca-se do edifício e funciona como suporte para uma futura camada vegetal, a ser constituída de trepadeiras com floradas distintas. Essa camada terá a função de filtrar a radiação solar.

Apesar de o posicionamento dos pórticos metálicos quebrarem a ortogonalidade do edifício e chamarem atenção para essa fachada, é perceptível a ideia de que não existe uma fachada principal ou mais importante. Quando olhamos a fachada posterior, esse conceito se confirma. É lá que a circulação do edifício se revela, fora do seu corpo, na forma de escadas e passarelas em um belo e importante jogo de planos, que se ajustam perfeitamente à topografia acidentada do morro e à profusão de árvores. “Uma verdadeira promenade para abraçar o morro”, explicam.

Os fechamentos laterais acompanham a linha da construção seca, compostos por telhas metálicas onduladas pintadas, lã de vidro e placas de gesso acartonado. Já as lajes são treliçadas e pré-fabricadas de concreto, por uma questão de custo. Por fim, para coroar o edifício, a cobertura também respira o verde, formada por um terraço jardim acessível a alunos e professores, naturalmente sombreado pela cobertura vegetal.

As instalações de elétrica, rede, telefonia e ar condicionado concentram-se verticalmente em shafts e são distribuídas entre o forro e no piso dos pavimentos.

Confiras as imagens do Edifício Beta da Puc-Rio:


       

 

           

 

Confira as imagens do projeto


 


A fachada posterior recebe as circulações, com escadas e passarelas que se ajustam à topografia. Entre os materiais de fechamento, destaque para as telhas metálicas onduladas nas laterais, que recebem na parte interior uma camada de lã de vidro e placas de gesso acartonado.

Ficha Técnica:

Arquitetura: Marcos Favero, Andrés Passaro e Diego Portas
Equipe de projeto: Luciano Álvares, Nathalia Mussi, Gustavo Aguilar
Estagiários: Catarina Flaksman, Denise Kuperman, Gabriel Maia, Raquel Cruz
Estrutura: Sebastião Andrade, Geraldo Filizola, Luíz Fernando Martha
Instalações: Claudiano Drummond
Conforto Ambiental: Walter Teixeira

Fonte:

Revista AU – Arquitetura & Urbanismo – Edição 193 – Abril de 2010.