Estrutura abandonada foi ponto de partida do centro para jovens. Localizado em Vila Nova Cachoeirinha, zona norte de São Paulo, o Centro de Cidadania da Juventude tem projeto de Eiji Ueda, arquiteto do Departamento de Edificações (Edif) da prefeitura paulistana.

Partindo de uma estrutura abandonada e dentro dos limites impostos às obras públicas, Ueda transformou-a em um conjunto expressivo e marcante em meio à rude paisagem da periferia, identificado com o programa que abriga.

A construção, que originalmente serviria a um sacolão, foi iniciada no mandato de Jânio Quadros, na segunda metade da década de 1980, e por isso ganhou depois o apelido de Esqueleto do Jânio. Em agosto de 2005, já na administração tucana, foi retomada com um terceiro programa: o Centro de Cidadania da Juventude.

A construção se localiza em área com elevados índices de vulnerabilidade juvenil. O conjunto tem sua entrada principal pela avenida Deputado Emílio Carlos e ocupa terreno de acentuado desnível – a outra lateral volta-se para o terminal de ônibus da Cachoeirinha, na avenida Inajar de Souza. 

A construção parece clamar por outro acesso, pois quem desembarca no terminal precisa caminhar duas ou três quadras para chegar até a entrada nobre. Outra conexão – que também facilitaria a vida de quem utiliza transporte público – foi desenhada mas não executada: uma passarela que interligaria o centro a uma torre de serviços, a ser construída do outro lado da avenida.

Ao contrário do programa inicial, extremamente compartimentado, o complexo cultural/educacional demandava espaços mais livres, áreas amplas e, na concepção de Ueda, um conjunto leve, transparente e, ao mesmo tempo, visualmente marcante, que correspondesse à nova ocupação.

Para atender a essas premissas, o autor aproveitou as duas laterais menores da planta retangular e ergueu duas empenas cegas, que, pintadas de azul, tornaram-se elementos importantes na composição espacial. Na face voltada para a rua de cota mais alta, onde só é visível um dos pavimentos do edifício, foram intercaladas superfícies curvas e planas, revestidas com diferentes materiais – às vezes são pintadas com tons fortes (alvenaria), em outras há transparências e telhas metálicas na cor natural.

Na fachada oposta, em que se nota a totalidade da construção, em três andares, prevalece a transparência, com as lajes em balanço e terraços em dois pavimentos no piso mais alto, brises metálicos protegem o interior do sol poente. Além de permitir a entrada da luz natural, as aberturas criam um eixo visual com a área verde do cemitério situado nas proximidades. No interior do conjunto, foi deixado, na parte central do bloco, um grande vazio junto à circulação vertical.

No térreo, ladeando esse vazio, estão, à esquerda do acesso, um teatro de arena (acima dele, no mezanino, há uma pequena arquibancada) e, à direita, o teatro delimitado por paredes em semicírculo. No mezanino, parte dos espaços é destinada a exposições. O primeiro subsolo tem áreas mais compartimentadas, mas nessas divisões foram aplicadas placas de vidro, prevalecendo a linguagem da permeabilidade. Até o final de junho, a biblioteca prevista não contava com o mobiliário sugerido. Grelhas colocadas junto à extremidade da laje no térreo deixam entrar a iluminação natural e permitem a ventilação do primeiro subsolo.

Menor e contido numa das laterais por um muro de arrimo, o segundo subsolo recebeu a infraestrutura do centro. Estão ali reunidos, entre outros, o núcleo multimídia, a lanchonete e setores administrativos.

Fonte:

Da Redação
Obra24Horas