Um dos principais motivos que levaram ao tardio uso do ferro no Brasil (e conseqüentemente do aço), foram as altas temperaturas, necessárias para sua fabricação, e que encareciam seu processo de fabricação, dificultando tanto a popularização quanto a comercialização. Para definirmos o que é aço, partiremos de seu processo de fabricação, a partir do minério de ferro: sua matéria prima.

A usina siderúrgica é a empresa responsável pela transformação do minério de ferro em aço, de maneira que ele possa ser usado comercialmente. Este processo tem o nome de Redução. Primeiramente, o minério – cuja origem básica é o óxido de ferro (FeO) – é aquecido em fornos especiais (alto fornos), em presença de carbono (sob a forma de coque ou carvão vegetal) e de fundentes (que são adicionados para auxiliar a produzir a escória, que, por sua vez, é formada de materiais indesejáveis ao processo de fabricação). O objetivo desta primeira etapa é reduzir ao máximo o teor de oxigênio da composição FeO. A partir disso, obtém-se o denominado ferro-gusa, que contem de 3,5 a 4,0% de carbono em sua estrutura. Como resultado de uma segunda fusão, tem-se o ferro fundido, com teores de carbono entre 2 e 6,7%. Após uma análise química do ferro, em que se verificam os teores de carbono, silício, fósforo, enxofre, manganês entre outros elementos, o mesmo segue para uma unidade da siderúrgica denominada aciaria, onde será finalmente transformado em aço. O aço, por fim, será o resultado da descarbonatação do ferro gusa, ou seja, é produzido a partir deste, controlando-se o teor de carbono para no máximo 2%. O que temos então, é uma liga metálica constituída basicamente de ferro e carbono, este último variando de 0,008% até aproximadamente 2,11%, além de certos elementos residuais resultantes de seu processo de fabricação. O limite de 0,008% de carbono está relacionado à sua máxima solubilidade no ferro à temperatura ambiente (solubilidade é a capacidade do material de se fundir em solução com outro), enquanto que o segundo – 2,11% – à temperatura de 1148° C .

Os aços diferenciam-se entre si pela forma, tamanho e uniformidade dos grãos que o compõem e, é claro, por sua composição química. Esta pode ser alterada em função do interesse de sua aplicação final, obtendo-se através da adição de determinados elementos químicos, aços com diferentes graus de resistência mecânica, soldabilidade, ductilidade, resistência à corrosão, entre outros. De maneira geral, os aços possuem excelentes propriedades mecânicas: resistem bem à tração, à compressão, à flexão, e como é um material homogêneo, pode ser laminado, forjado, estampado, estriado e suas propriedades podem ainda ser modificadas por tratamentos térmicos ou químicos.

Rolos de aço laminados (chapas longas enroladas)

A Estrutura do Aço

O aço, como os demais metais, se solidifica pela formação de cristais, que vão crescendo a diferentes direções, formando os denominados eixos de cristalização. A partir de um eixo principal, crescem eixos secundários, que por sua vez se desdobram em novos eixos e assim por diante até que toda a massa do metal se torne sólida. O conjunto formado pelo eixo principal e secundários de um cristal é denominado dendrita. Quando duas dendritas se encontram, origina-se uma superfície de contato e ao término do processo de cristalização, formam cada uma os grãos que compõem o metal, de modo que todos os metais, após sua solidificação completa, são constituídos de inúmeros grãos, justapostos e unidos.

Esquema estrutural de uma dendrita

A formação de cristais no ferro ocorre segundo dois tipos de reticulados: o Ø e ß. Ambos fazem parte de um sistema cristalino cúbico, ou seja, a unidade básica do cristal tem a forma de um cubo. No primeiro tipo de reticulado (Ø) denominado cúbico de corpo centrado (CCC), ao isolar-se a unidade básica do cristal, verifica-se que os átomos de ferro localizam-se nos oito vértices e no centro do cubo, enquanto que no segundo (ß) agora denominado cúbico de face centrada, os átomos ficam posicionados nos oito vértices e no centro de cada face do cubo.

Estrutura cúbica de corpo centrado e cúbica de face centrada: representação esquemática e tridimensional

Além do ferro, o aço apresenta em sua constituição carbono e elementos de liga. Estes elementos vão formar junto com o ferro uma solução e, de acordo com a temperatura e a quantidade de carbono presente, haverá a presença de um determinado tipo de reticulado.

O aço é constituído de um agregado cristalino, cujos cristais (grãos) se encontram justapostos. As propriedades dos aços dependem muito de sua estrutura cristalina, ou seja, de sua composição química, do tamanho dos grãos, de sua uniformidade. Os tratamentos térmicos bem como os trabalhos mecânicos modificam em maior ou menor intensidade alguns destes aspectos (arranjo, dimensões, formato dos grãos) e, conseqüentemente, podem levar a alterações nas propriedades de um determinado tipo de aço, conferindo-lhe características específicas: mole ou duro, quebradiço ou tenaz, etc.

Tratamentos do Aço

A usinagem do aço pressupõe sistemas altamente industrializados.

     

 

Tratamentos térmicos são o conjunto de operações de aquecimento e resfriamento a que são submetidos os aços, sob condições controladas de temperatura, tempo, atmosfera e velocidade de esfriamento. O tratamento térmico é bastante utilizado em aços de alto teor de carbono ou com elementos de liga. Seus principais objetivos:

i. aumentar ou diminuir a dureza;
ii. aumentar a resistência mecânica;
iii. melhorar resistência ao desgaste, à corrosão, ao calor;
iv. modificar propriedades elétricas e magnéticas;
v. remover tensões internas, provenientes por exemplo de resfriamento desigual;
vi. melhorar a ductilidade, a trabalhabilidade e as propriedades de corte.

Os principais parâmetros de influência nos tratamentos térmicos são:

  • aquecimento: geralmente realizado a temperaturas acima da crítica (723°), para uma completa “austenização” do aço. Esta austenização é o ponto de partida para as transformações posteriores desejadas, que vão acontecer em função da velocidade de resfriamento;
  • tempo de permanência à temperatura de aquecimento: deve ser o estritamente necessário para se obter uma temperatura uniforme através de toda a seção do aço;
  • velocidade de resfriamento: é o fator mais importante, pois é o que efetivamente vai determinar a estrutura e consequentemente as propriedades finais desejadas. As siderúrgicas escolhem os meios de resfriamento ainda em função da seção e da forma da peça.

Dentre os tratamentos térmicos mais utilizados, encontram-se o recozimento, a normalização, a têmpera e o revenido. Vejamos a seguir as principais características de cada um:

* No recozimento a velocidade de esfriamento é sempre lenta e o aquecimento pode ser feito a temperaturas superiores à crítica (recozimento total ou pleno) ou inferiores (recozimento para alívio de tensões internas). É utilizado quando se deseja:

  • remover tensões devido a tratamentos mecânicos à frio ou à quente, tais como o forjamento e a laminação;
  • diminuir a dureza para melhorar a usinabilidade do aço;
  • alterar propriedades mecânicas;
  • ajustar o tamanho do grão.

* A normalização é um tratamento semelhante ao anterior quanto aos objetivos. A diferença consiste no fato de que o resfriamento posterior é menos lento. Visa refinar a granulação grosseira de peças de aço fundido, que são também aplicadas em peças depois de laminadas ou forjadas, ou seja na maioria dos produtos siderúrgicos. É também usada como tratamento preliminar à tempera e ao revenido, visando produzir uma estrutura mais uniforme e reduzir empenamentos.

* A têmpera consiste no resfriamento rápido da peça de uma temperatura superior à crítica, com a finalidade de se obter uma estrutura com alta dureza (denominada estrutura martensítica). Embora a obtenção deste tipo de estrutura leve a um aumento do limite de resistência à tração do aço, bem como de sua dureza, há também uma redução da maleabilidade e o aparecimento de tensões internas. Procuram-se atenuar estes inconvenientes através do revenido.

* Já o revenido geralmente sucede à têmpera, pois além de aliviar ou remover tensões internas, corrige a excessiva dureza e fragilidade do material e aumenta a maleabilidade e a resistência ao choque. A temperatura de aquecimento é inferior à 723° (crítica), e os constituintes obtidos dependem da temperatura a que se aquece a peça.

Os trabalhos mecânicos podem ser a frio e a quente. A laminação é um exemplo de trabalho mecânico a quente, sendo uma etapa de extrema importância, pois é através dela que se obtêm as formas adequadas dos produtos em aço para uso comercial (chapas, perfis, barras). O forjamento e o estiramento são outros exemplos. O trabalho mecânico a quente é realizado acima da temperatura crítica do aço (723° C), pois assim ele se torna mais mole e conseqüentemente mais fácil de ser trabalhado. Depois de deformados, os grãos do material em questão recristalizam-se, agora sob a forma de pequenos grãos.

A laminação também pode ser um trabalho a frio, desta forma ela é realizada abaixo da temperatura crítica. Neste caso, após o trabalho, os grãos permanecem deformados e diz-se que o material está “encruado”. Assim como nos tratamentos térmicos, o encruamento altera as propriedades do material – aumenta a resistência, o escoamento, a dureza, a fragilidade e diminui o alongamento, estricção, resistência à corrosão, etc. Se o aço encruado for aquecido, os cristais tenderão a se reagrupar e o encruamento a desaparecer.

Propriedades do Aço

     

Nos processos de montagem, todas as medidas são milimetricamente controladas

Suas propriedades são de fundamental importância, especificamente no campo de estruturas metálicas, cujo projeto e execução nelas se baseiam. Não são exclusivas dos aços, mas, de forma semelhante, servem a todos os metais. Em um teste de resistência, ao submeter uma barra metálica a um esforço de tração crescente, ela irá apresentar uma deformação progressiva de extensão, ou seja, um aumento de comprimento. Através da análise deste alongamento, pode-se chegar a alguns conceitos e propriedades dos aços:

A elasticidade é a propriedade do metal de retornar à forma original, uma vez removida a força externa atuante. Deste modo, a deformação segue a Lei de Hooke, sendo proporcional ao esforço aplicado:

Þ = µ . E

onde: Þ = tensão aplicada; e µ = deformação (E = módulo de elasticidade do material – módulo de Young).

Ao maior valor de tensão para o qual vale a Lei de Hooke, denomina-se limite de proporcionalidade. Ao ultrapassar este limite, surge a fase plástica, onde ocorrem deformações crescentes mesmo sem a variação da tensão: é o denominado patamar de escoamento. Alguns materiais – como o ferro fundido ou o aço liga tratado termicamente – não deformam plasticamente antes da ruptura, sendo considerados materiais frágeis. Estes materiais não apresentam o patamar de escoamento.

A plasticidade é a propriedade inversa à da elasticidade, ou seja, do material não voltar à sua forma inicial após a remoção da carga externa, obtendo-se deformações permanentes. A deformação plástica altera a estrutura de um metal, aumentando sua dureza. Este fenômeno é denominado endurecimento pela deformação à frio ou encruamento.

Ductilidade é a capacidade do material de se deformar sob a ação de cargas antes de se romper, daí sua grande importância, já que estas deformações constituem um aviso prévio à ruptura final do material, o que é de extrema importância para previnir acidentes em uma construção, por exemplo. A fragilidade, oposto à ductilidade, é a característica dos materiais que rompem bruscamente, sem aviso prévio (um dos principais fatores responsáveis por diversos tipos de acidentes ocorridos em pontes e navios).

A resiliência é a capacidade de absorver energia mecânica em regime elástico, ou seja, a capacidade de restituir a energia mecânica absorvida. Já a tenacidade é a energia total, plástica ou elástica, que o material pode absorver até a ruptura. Assim, um material dúctil com a mesma resistência de um material frágil irá requerer maior energia para ser rompido, portanto é mais tenaz.

A fluência é mais uma outra propriedade apresentada pelo aço e metais em geral. Ela acontece em função de ajustes plásticos que podem ocorrer em pontos de tensão, ao longo dos contornos dos grão do material. Estes pontos de tensão aparecem logo após o metal ser solicitado por uma carga constante, e sofrer a deformação elástica. Após esta fluência ocorre a deformação continua, levando a uma redução da área do perfil transversal da peça (denominada estricção). Tem relação com a temperatura a qual o material está submetido: quanto mais alta, maior ela será, porque facilita o início e fim da deformação plástica. Nos aços, é significativa para temperaturas superiores a 350° C, ou seja, em caso de incêndios.

É importante citar ainda a fadiga, sendo a ruptura de um material sob esforços repetidos ou cíclicos. A ruptura por fadiga é sempre uma ruptura frágil, mesmo para materiais dúcteis.

Por fim, temos a dureza, que é a resistência ao risco ou abrasão: a resistência que a superfície do material oferece à penetração de uma peça de maior dureza. Sua análise é de fundamental importância nas operações de estampagem de chapas de aços.

Classificação dos Aços

Não existe, ainda hoje, uma classificação dos aços considerada precisa e completa, principalmente com relação aos aços-liga, em que a cada dia é pesquisada a inclusão de novos elementos, e consequentemente obtidos novos aços. Ainda assim, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), a SAE (Society Automotive Engineers) e a ASTM (American Society for Testing and Materials), entre outras , possuem sistemas que tem atendido as atuais necessidades.

Aços Estruturais são vergalhões para reforço de concreto, barras, chapas e perfis para aplicações estruturais. São aqueles que são adequados para o uso em elementos que suportam cargas. Os principais requisitos para os aços destinados à aplicação estrutural são:

  • elevada tensão de escoamento para prevenir a deformação plástica generalizada;
  • elevada tenacidade para prevenir fratura rápida (frágil) e catastrófica;
  • boa soldabilidade para o mínimo de alterações das características do material na junta soldada;
  • boa formabilidade para o material ou a peça que necessitar receber trabalho mecânico;
  • custo reduzido.

Podem ser agrupados sob três classificações gerais, conforme a tensão de escoamento mínima especificada:

  • aços carbono: aproximadamente 195 a 260 MPa;
  • aços de alta resistência e baixa liga (ARBL): 290 a 345 MPa;
  • aços liga tratados termicamente: 630 a 700 MPa.

Também existem aços especiais, resistentes à corrosão atmosférica, um fenômeno que exige atenção, principalmente, quando se vai utilizar estruturas de aço aparente. Há alguns aços, que mesmo sem a utilização de uma proteção adicional, possuem a capacidade de resistir a este tipo de corrosão de forma bastante superior aos aços comuns, são os chamados aços patináveis ou aclimáveis (em inglês, wheathering steel). Os aços patináveis foram introduzidos no início da década de trinta nos Estados Unidos, inicialmente para utilização em estradas de ferro, e mais especificamente na fabricação de vagões de carga. Devido às características e qualidades desses aços, que combinavam alta resistência mecânica com resistência à corrosão atmosférica, rapidamente encontraram aceitação, embora no início fossem empregados, na maioria das vezes, como revestimento. Comercialmente, receberam o nome de CORTEN, atualmente são utilizados nos mais diversos campos, principalmente na construção civil. No Brasil estão disponíveis sob a forma de chapas, bobinas e perfis soldados, possuindo denominações especiais conforme a siderúrgica produtora.

Por definição, aços patináveis ou aclimáveis são um grupo de aços de baixa liga, com resistência mecânica na faixa de 500 MPa (limite de ruptura) e alta resistência à corrosão atmosférica. Tais características acontecem em função da presença de determinados elementos de liga, como cobre, fósforo, cromo, silício, níquel, manganês, vanádio, nióbio, molibdênio, entre outros, em combinações específicas, conforme a siderúrgica produtora. Como visto, o ferro ou o aço carbono comum se caracterizam normalmente por suas propriedades típicas permanecendo alteradas sob ação do meio envolvente. Mas isto pode ser modificado pela adição dos elementos de liga, embora as porcentagens com que estes elementos comparecem são bem pequenas. Os aços patináveis, quando expostos à atmosfera, iniciam a formação de uma camada de óxido compacta e aderente – a pátina – que funciona como barreira de proteção contra a corrosão. Algumas teorias tentam explicar o desempenho superior deste tipo de aço:

1. Os elementos de liga (cobre em especial) retardam a velocidade de corrosão;
2. Os produtos da corrosão então formados são mais homogêneos, compactos, favorecendo a proteção e ainda alterando as condições de condensação de umidade do metal base.

É necessário observar alguns aspectos relevantes ao desenvolvimento desta pátina protetora:

  • A camada protetora, bem formada, só é conseguida em condições de umedecimento (chuva e umidade) e secagem (sol e vento);
  • O tempo de sua formação varia em função da atmosfera local, levando em média de 2 a 3 anos. Após esse período ela adquire uma coloração marrom escura;
  • Locais de retenção de grande umidade ou partes submersas não desenvolvem a mesma proteção, pois não estão expostos à luz solar;
  • Locais submetidos a lavagens acentuadas e constantes, tais como zonas de respingo em água do mar, não apresentam eficiência superior ao aço comum, já que a lavagem remove a pátina;
  • As regiões não expostas aos intemperismos naturais, tais como juntas de expansão, articulações, e regiões sobrepostas, apresentam comportamento crítico.

Quanto às propriedades, são soldáveis e trabalháveis de maneira similar ao aço-carbono comum. Apresentam ainda média ou alta resistência mecânica, o que proporciona tanto uma redução no peso da estrutura quanto uma diminuição da espessura das chapas usadas.

   

               

A construção civil em aço se aplica em vários locais e para diversos usos, como pontes, aeroportos, complexos industriais ou edifícios

Ainda referente aos aços resistentes à corrosão, temos também os aços inoxidáveis. O uso do aço inox tem crescido de forma destacável nas últimas décadas. Na maioria das aplicações em arquitetura, a aparência, o prestígio e a qualidade estética são características combinadas com as conhecidas considerações funcionais proporcionadas pelo material: alta resistência à corrosão, impacto, abrasão e durabilidade. Sendo o aspecto visual de grande importância na escolha e aplicação do material, são necessários cuidados específicos na fabricação das peças e componentes, além de, pela parte do arquiteto, um bom projeto de detalhamento, e, finalmente, uma execução adequada. Os aços inoxidáveis são ligas de ferro com a característica de possuírem teores de Cr (cromo) acima de 12%. Este tipo de aço é de grande interesse de aplicação em determinados ambientes ou situações, devido à sua capacidade de resistir à corrosão aliada a algumas propriedades mecânicas. Como nos aços patináveis, a característica de alta resistência à corrosão é obtida pela formação de um filme superficial, produto da reação do cromo com o oxigênio da atmosfera: cada vez que este filme é rompido por qualquer motivo (riscos, por exemplo), imediatamente ele se recompõe, desde que haja oxigênio disponível para a formação do óxido protetor. Tanto a resistência à corrosão, bem como características de fabricação, podem ser melhoradas através da adição de alguns elementos além do cromo. Há de se observar, entretanto, que nenhum material é totalmente inoxidável e, em meios corrosivos sua seleção deve ser realizada com o máximo de consciência e conhecimento de suas características e comportamento.

Existem atualmente uma grande variedade de ligas produzidas, cada uma apresentando propriedades específicas em função de sua composição química. Nesta composição química, bem como de características metalúrgicas, é que estão agrupadas as três famílias dos aços inoxidáveis: austeníticos, ferríticos e martensíticos. Existem diversos sistemas de classificação, e será mostrado o padrão reconhecido pela ABNT:

a) austeníticos: contem tipicamente 18% de cromo, 8% de níquel e baixo teor de carbono. Atualmente esta família responde por cerca de 70% do total de aços inox produzidos em todo o mundo, principalmente em função de características como: excelente resistência à corrosão, alta resistência mecânica, boa soldabilidade, boa conformabilidade, facilidade de limpeza, durabilidade, recomendando-os à arquitetura e construção em geral;

b) ferríticos: são ligas de ferro-cromo, contendo geralmente de 12 a 17% de cromo. Apresentam boa resistência à corrosão em meios menos agressivos, boa ductilidade, razoável soldabilidade;

c) martensíticos: também são ligas ferro-cromo. Uma característica desta família é a de poder atingir altas durezas (1379 MPa) através de tratamento térmico, entretanto, não são especificados para uso da construção civil.

A aplicação de aços inoxidáveis como painéis de revestimento de fachadas tem crescido de forma positiva nos últimos anos. Comparado com os materiais tradicionalmente utilizados, tais como mármore, granito, cerâmica, apresenta algumas vantagens:

  • redução do peso do revestimento sobre a estrutura da edificação;
  • rapidez de instalação;
  • facilidade de manutenção e limpeza;
  • não liberam produtos de corrosão que atacam superfícies de alumínio ou zinco ou ainda que manchem outros materiais em contato (mármores, alvenarias, etc.).

A aparência exterior dos edifícios pode ser brilhante ou reflexiva conforme as exigências ou preferências de projeto em questão. Os acabamentos mais reflexivos geralmente assumem as cores do meio-ambiente que o envolve, cores estas que variam com a alteração da luminosidade ao longo das horas do dia e dos meses do ano. O aço inox também tem sido bastante empregado no mobiliário urbano, principalmente em função de suas características de durabilidade, facilidade de limpeza e manutenção, além da boa resistência ao ataque da poluição, característica de nossas cidades, e que muitas vezes leva à uma rápida deterioração deste tipo de elemento. Assim, bancos de jardins, abrigos de ônibus, cabinas telefônicas, corrimãos de escadas, coletores de lixos, bancas de jornal, dentre outros aparelhos públicos em inox, já fazem parte da paisagem de muitas cidades brasileiras. Alguns destes exemplos podem ser vistos no Edifício River Park, localizado em São Paulo e Edifício Ponta Engenharia, localizado em Belo Horizonte, ambos revestidos com aço inoxidável 304 em suas fachadas.

Fontes de Pesquisa:

BENEVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva, 1994. Título original: Storia dell’architettura moderna, Laterza & Figli. Trad. Ana M. Goldberger.
BONSIEPE, Gui. Teoria y práctica del diseño industrial. Barcelona: Gustavo Gili, 1978.
BRUNA, Paulo. Arquitetura, industrialização e desenvolvimento. São Paulo: Perspectiva, 1983.
CARDOSO, F. F. et al.. Projeto e construção de edifícios de aço: uso do aço na construção. São Paulo: EPUSP, 1988. (Publicação Técnica, v. 2)
Projeto e construção de edifícios de aço: o mercado do aço. São Paulo: EPUSP, 1988. (Publicação Técnica, v. 2)
COSTA, C. T. O sonho e a técnica: a arquitetura do ferro no Brasil. São Paulo: EDUSP, 1994.
DAL BELO, S. As estruturas com perfis e painéis de aço a frio. São Paulo, Revista Projeto, n.80 p. 114-5. out.,  1995.
DEMETERCO, P. L. Um sistema construtivo industrial de edificações de baixo custo como agente de otimização da infra-estrutura industrial nacional: o sistema-aço. In: SIMPÓSIO SOBRE O USO DO AÇO NA CONSTRUÇÃO.  Ouro Preto: UFOP, 1984. p. 99-134.
SALES, J. J. Estudo do projeto e da construção de edifícios de andares múltiplos com estruturas de aço. Tese (Doutorado). Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1995.
TOSCANO, J. W. Arte e ciência. São Paulo, Revista Construção Metálica, n. 4, p. 18-20, 1991.
ZANETTINI, S. No problema habitacional o que falta é disposição política. São Paulo, Revista Construção Metálica, n. 5, p. 4-6, 1992.
Anotações em sala de aula da disciplina “Tecnologia da Construção Civil 1”, para o curso de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo, no ano de 2003, ministrada pelo professor Eduvaldo P. Schieri.

Autor: Henrique Ferraz – Arquitetura e Urbanismo da EESC-USP – Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo

Fonte: CDCC/USP – Centro de Divulgação Científica e Cultural da Universidade de São Paulo