O sistema Light Steel Frame (LSF) é uma alternativa construtiva eficiente, rápida e ambientalmente sustentável, mas, infelizmente, ainda está engatinhando no Brasil.
O modelo construtivo registra crescimento, mas ainda em um ritmo lento, sem os necessários incentivos governamentais, principalmente, para se tornar um dos principais aliados no combate ao déficit habitacional brasileiro. A fatia de participação no mercado da construção civil chega a apenas 1 %, segundo pesquisas realizadas pelos principais entidades e empresas do segmento.

Como ampliar a participação do LSF no momento em que todas as apostas recaem sobre a construção civil? Este é o principal desafio lançado a construtores, profissionais e empresas que vislumbram nesta alternativa de construir um modelo ideal para o País.

Cinco desafios ainda dificultam a utilização desse moderno sistema construtivo caracterizado principalmente pela eficiência e seu grande potencial de reduzir as grandes margens de desperdício de mão de obra e de materiais em todo o Brasil. Os principais eixos dessa bandeira para introduzir o LSF em todas as regiões brasileiras podem ser resumidos nestas principais vertentes: conceito, financiamento, déficit habitacional, especialização de mão de obra e expansão de mercado.

Em uma análise sobre a performance obtida até por quem acredita nesse modelo, a constatação é imediata: ainda temos que caminhar muito para alcançar o patamar de países vizinhos ao nosso, aqui mesmo da América do Sul, como o Chile, onde o Light Steel Frame é empregado em cerca de 35% das construções. A nação chilena somente conseguiu alcançar essa margem graças aos subsídios governamentais. Lá, ao contrário do Brasil, os governantes, que têm fundamental papel principalmente na difusão e implantação das políticas habitacionais, entenderam e estimular a adoção da opção para reduzir os déficits de moradias, oferecendo um produto de qualidade aos chilenos.

No Brasil, o caminho tem sido inverso. A iniciativa privada colhe os resultados positivos da construção seca, como também é chamado o LSF.

Condomínios de médio e alto padrão começam a ser edificados pelo LSF

Na iniciativa privada, tem sido crescente o aumento da participação do Light Steel Frame em construções de empresas, lojas e agências bancárias. Condomínios de médio e alto padrão começam a ser edificados pelo modelo. Mas, a base de atuação ainda é pequena frente às vantagens e possibilidade de expansão desse modelo.
É sobre esses desafios que discorro neste artigo tanto para alertar os principais atores do mercado nacional da construção civil, empreendedores e organismos públicos, em especial – quanto ao consumidor final, que começa a perceber, com mais consciência, as vantagens desse jeito de construir que oferece resultados positivos tanto em itens como durabilidade e conforto oferecidos pelos imóveis.

O LSF é usado em larga escala em países europeus, Estados Unidos e Japão. É no Exterior, aliás, que encontramos um espelho ideal para apresentarmos as principais vantagens da construção a seco. Infelizmente, ainda constatamos no Brasil, que até mesmo profissionais da área técnica a colocam em xeque. O steel frame surgiu no período pós-guerra, quando os países que se livraram do horror do pesadelo mundial e utilizaram os materiais deixados pela indústria bélica para criar esse modelo, responsável por reconstruir rapidamente, oferecendo a seus moradores, imóveis confortáveis e com grande durabilidade.

De lá para cá, o sistema foi sendo aperfeiçoado e transformou-se em um sistema construtivo muito eficiente que, gosto de sublinhar, representa uma alternativa inteligente para bater de frente com a obsoleta alvenaria, praticada há não sei quantos séculos, e substituí-Ia adequadamente. Essa alternativa resulta em uma casa com uma grande durabilidade e excelente potencial de reaproveitamento de materiais.

Na defesa desse sistema, às vezes me vejo repetindo essas verdades, ainda pouco entendidas. E explico o porquê. No dia a dia, à frente de uma construtora com 24 anos de existência e no trato com grandes fornecedores e profissionais das áreas de arquitetura e engenharia, constato que ainda há muita confusão, por exemplo, entre o light steel frame e o drywall. Por isso, o detalhamento do conceito é tão pertinente.

Conceito

A correta difusão sobre o que é esse sistema construtivo moderno, eficaz, redutor de margens de erro em obras e de desperdício de materiais será o principal aliado na busca de uma maior disseminação do light steel frame. Em escritórios de arquitetura e engenharia, condomínios, obras públicas e privadas.

O LSF é caracterizado pelo uso de perfis de aço galvanizado e produtos industrializados como placas cimenticias, OSB, gesso e lã mineral. Diferencia-se da alvenaria, entre outros itens, por oferecer a redução total do desperdício de materiais? O modelo é totalmente industrializado, então, ao projetar uma casa de 50 m², por exemplo, o arquiteto terá em mãos a projeção correta do total de materiais que será utilizado, bem como o planejamento da obra, incluindo a carga horária que será trabalhada em cada fase da execução da obra.

A construção é feita por módulos e atendendo a um mecanismo de encaixe de materiais sem chance de erros por causa das medições precisas. Por isso, quando o construtor estima a entrega em apenas 10 dias de um imóvel com 50 m², por exemplo, ele irá cumprir o prazo sem margem de erro, a partir dos prazos necessários para as aprovações legais da planta e dos serviços de fundação.

O Light Steel Frame é um sistema construtivo que possibilita a racionalização no processo construtivo com o emprego de materiais com menor impacto ambiental. Ele reduz a geração de resíduos, amplia a eficiência energética com menor consumo e a reutilização de recursos naturais. É uma obra rápida, limpa e seca.

Financiamento

Um outro desafio que começou a ser vencido em 2010 refere-se às facilidades de financiamento, necessário para a expansão das construções, em especial, quando o assunto são os condomínios de casas. Neste último trimestre, a Caixa Econômica Federal (CEF) acenou com as primeiras mudanças efetivas para facilitar a apresentação e, após as devidas análises, a aprovação de projetos em larga escala. Até aqui, a falta de uma política de atração e de atendimento aos projetos planejados para serem construídos em light steel frame consistia em uma grande decepção à maioria dos que apostam nesse modelo e têm consciência de sua importância, principalmente, para a redução dos déficits habitacionais em todo o País.

Cabe um parêntesis, ainda: uma das primeiras projeções feitas a partir de levantamentos prévios do Censo 2010 foi a seguinte: nos próximos anos, com a evolução do nível sócio-econômico dos brasileiros, a moradia digna será a principal cobrança das famílias aos futuros dirigentes. É a matemática da melhoria das condições de vida no País, ancorada pela economia em ascensão e benesses que deverão ser colhidas por um conjunto de previsões positivas como a exploração do pré-sal.

Com acesso à renda, a valorização da moradia é o item número um dos interesses familiares. Não à toa, o projeto Minha Casa, Minha Vida, que pretende construir mais de três milhões de moradias populares atende a essa premissa. Mas como construir de uma forma rápida e ainda oferecer uma excelente qualidade ao imóvel entregue aos milhões de mutuários aptos graças ao fortalecimento do mercado de trabalho nacional?

O Light Steel Frame, usado de maneira pioneira pelo Governo do Estado de São Paulo no projeto Vila Dignidade, da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) é uma resposta à altura. Mas, de forma infinitamente modesta, frente à demanda por moradias.

São necessários incentivos e facilidades aos construtores. E, até a regulamentação recém-divulgada pela CEF, os empreendedores permaneciam de mãos atadas. A notícia ainda recente sobre a abertura oferecida pela CEF é auspiciosa? ainda que merece um olhar mais detalhado, na semana final de outubro, quando escrevo esse artigo, não haviam sido disponibilizados dados pormenorizados sobre os mecanismos aprovados pela instituição federal.

Déficit habitacional

A adoção do LSF como um modelo para reduzir o déficit habitacional traduz um outro importante ponto nesta discussão. E quando falo em déficit habitacional, ele não é restrito apenas a famílias das classes D e E. Esse sistema tem sido utilizado hoje, no Brasil, principalmente em moradias de alto padrão, que adotam esse sistema construtivo porque seus moradores já conhecem suas principais características: durabilidade, rapidez na entrega da obra, excelentes conforto térmico e acústico, perfeito acabamento de paredes e estruturas, redução de patologias, além de facilidades para a manutenção e ampliação de ambientes.

Casas em condomínios de alto padrão, como o paulistano Alphaville, aderiram ao modelo diferente.

E, aqui, reside o grande trunfo dessa opção. As casas destinadas também as demais classes sociais seguem o mesmo padrão: são feitas com os mesmos materiais e produzem os mesmos efeitos. São construídas, no entanto, em espaços menores. Mas com a mesma rapidez e eficiência oferecida ao futuro morador de uma cada de 400 metros quadrados, por exemplo. Num País marcado pela contrastante realidade em seus mais diferentes estados, o Light Steel Frame é, tenho absoluta certeza, a resposta ideal para a reconstrução de cidades devastadas pelas chuvas como ocorreu recentemente no Nordeste do País? ou para a eliminação de guetos e favelas ainda desafiadoras em grandes capitais e cidades metropolitanas.

Mão de obra

Um dos pilares desse sistema construtivo reside na boa capacitação e especialização de mão de obra, desde o planejamento e traçado do projeto à execução com a montagem da estrutura. Os profissionais são fatores determinantes para a execução da obra e a obtenção de todos os benefícios que esse sistema produz: rapidez, combate ao desperdício de materiais, qualidade e durabilidade do imóvel. Depois de acompanhar as dificuldades no entendimento desse modelo e as falhas existentes ainda hoje nos bancos universitários brasileiros, a montagem de um curso a engenheiros e arquitetos, coordenado pela Construtora Micura, comprovou o quanto ainda é necessário difundir os princípios básicos desse novo filão da construção civil.
Demanda para a contratação desses profissionais, existe. Investimentos na formação profissional carecem ser feitos por organismos públicos e privados. O apagão na mão de obra especializada também se dá neste meio. Por isso, defendemos um maior cuidado com a capacitação e formação dos profissionais.

Mercado

O potencial de utilização do LSF no Brasil é um dos mais promissores. Nos últimos anos, o sistema, ainda em fase de implantação, foi adotado com sucesso principalmente em capitais e algumas das maiores cidades das Regiões Sul e Sudeste brasileiras. No portfólio nacional, dividido pelas pioneiras construtoras que apostaram nesta via, estão casas de todos os padrões e, predominantemente, ainda, grandes centros de distribuição de alguns dos mais importantes grupos empresariais nacionais, lojas, postos de gasolina e outros estabelecimentos.

Para se ter uma idéia dessa expansão, em poucos meses, a própria CEF deverá iniciar a construção de cinco agências em light steel frame, todas com projetos já pré-aprovados.

Além da comprovação do aumento das construções, é importante ressaltar que fornecedores nacionais e internacionais de materiais de base, como o aço galvanizado, placas cimentícias, e outros, prospectam um importante crescimento desse braço construtivo no Brasil. Tanto que já constam de suas planilhas a produção de material necessário para atender a esse novo nicho nos próximos anos. Será necessário ampliar o raio de atuação a outros mercados. Estender a cultura do Light Steel Frame às demais regiões brasileiras onde os déficits históricos de moradia começam a ser corrigidos, graças ao excelente momento de crescimento registrado na última década no País.

Mais uma vez, a formação de mão de obra técnica será peça fundamental nesse quebra-cabeças para a manutenção da qualidade das obras? sem isso, a credibilidade do sistema poderá ser colocada em risco.

Fonte: Heloísa Pomaro Arquiteta – Construtora Micura Steel Frame
Fotos: Divulgação Construtora Micura Steel Frame