Terreno contaminado é recuperado e revitaliza espaço público.

Um grande deck sustentado por estrutura metálica impede o contato com o solo contaminado. A Praça possui uma área verde com cerca de 80 árvores; um palco para espetáculos com arquibancada coberta para 300 pessoas; equipamentos de ginástica ao ar livre; pista de caminhada e centro de convivência para a terceira idade.

Resgatar um terreno degradado pela atividade industrial no bairro paulistano de Pinheiros e devolvê-lo como área de lazer pública foi o objetivo do projeto da Praça Victor Civita, viabilizado por meio de uma parceria entre o Grupo Abril e a Prefeitura de São Paulo.

Responsável pelo projeto, o Escritório Levisky Arquitetos utilizou o aço de forma intensiva para criar uma estrutura suspensa sobre o terreno contaminado pela incineração de medicamentos e pelo armazenamento de lixo.

“O aço fez parte de todas as edificações, desde a fundação e estruturação do piso da Praça, passando pelas novas instalações e até as intervenções nos elementos estruturais existentes”, destaca a arquiteta Adriana Levisky.

   

A Praça Victor Civita está instalada em uma área com mais de 13,6 mil m², no qual um deck de 1.800 m² dá acesso a várias edificações: uma arena coberta para eventos, ao Museu da Reabilitação, implantado no edifício do antigo incinerador, ao Centro da Terceira Idade, à Oficina de Educação Ambiental, ao Núcleo de Investigação de Águas e Solos subterrâneos e à Praça de Paralelepípedos. As atividades realizadas nestes equipamentos contribuem para a diversificação do uso público do espaço e para a disseminação de conhecimentos ligados à sustentabilidade.

Praça-barco

De acordo com a arquiteta, devido ao uso anterior do local e pelo fato de cinzas contaminadas do incinerador terem sido ali enterradas, não era possível remover os materiais e o contato com o solo deveria ser mínimo. Na verdade, foi preciso isolar o solo contaminado com uma nova camada posta sobre a anterior.  A área também contava com árvores de raízes espalhadas e um solo característico da várzea do Rio Pinheiros. Devido a estas circunstâncias, a Praça teve uma característica única: configura uma plataforma elevada flutuando sobre o solo, sem, no entanto tocá-lo. Para isso, foram utilizadas estacas e vigas metálicas.

“Os caminhos do deck de madeira se conectam ao piso elevado de concreto, também sobre estrutura metálica, e no mesmo nível, levando às demais edificações e complementando o programa de atividades da Praça”, explica Adriana Levisky. Segundo ela, a estrutura em aço facilitou tanto a modulação do projeto, quanto o apoio do deck de madeira, material escolhido para a maior parte do piso. Para os elementos arquitetônicos sobre a Praça, a arquiteta destaca a obtenção de grandes vãos e formas arquitetônicas diferenciadas com o uso do aço.

Detalhe 1 – corte tipo Deck 1

O projeto foi elaborado a partir de premissas sustentáveis visando à redução de entulho, baixo consumo de energia, utilização de materiais reciclados, legalizados e certificados, reuso de água, aquecimento solar e manutenção da permeabilidade do solo.
Abaixo, imagem do deck que se estende na diagonal do terreno, propondo um percurso que enfatiza a perspectiva natural do espaço e convida o usuário a percorrer os caminhos da Praça.

A cobertura do auditório tem vão livre de 10,5 m e balanço frontal de 6,3 m. Já a arquibancada tem cobertura com vão livre de 20 m e 6,5 m de balanço frontal. Em ambas foram utilizadas treliças compostas por perfis tubulares, com diâmetros de 168 mm e 88 mm, e perfis de chapa dobrada.
Na estrutura do deck foram utilizados perfis laminados com alturas de 150 mm e 250 mm. Por fim, os abrigos têm balanços de 3,3 m, compostos por perfis de altura variável e perfis de chapa dobrada. Além destes, os demais edifícios receberam reforços e complementos, tais como escadas e mezaninos em aço.

Paisagismo

Além de todas as interferências do ponto de vista técnico para a recuperação do terreno e instalação de um espaço público sustentável, o projeto paisagístico também foi elaborado de acordo com princípios rigorosos.  Assinado pelo arquiteto paisagista Benedito Abbud, baseia-se no Termo de Referência para a recuperação de áreas degradadas, desenvolvido pelos órgãos ambientais da Prefeitura de São Paulo.

Em toda a Praça foram plantadas diferentes espécies originais da flora paulista. O local dispõe, ainda, de espaço para compostagem e uma horta circular, atividades que integram o programa de educação ambiental realizado com crianças e exibido ao público. Também integra o programa o plantio de culturas, a exemplo do algodão e do milho, acrescido de outras questões como as relativas à eficiência energética. (E.C.) M

 

 

 

Ficha Técnica:

Projeto arquitetônico: Levisky Arquitetos | Estratégia Urbana
Área construída: 2.650 m²
Área do terreno: 13.648 m²
Aço empregado: ASTM A572 GR50
Volume do aço: 135 t
Projeto estrutural: Heloisa Maringoni / Companhia de Projetos
Fornecimento da estrutura metálica: Jodi Estruturas Metálicas
Execução da obra: Even Construtora
Local: São Paulo, SP
Data do projeto: 2006/2007
Conclusão da obra: 2008

Fonte:

CBCA – 27/06/2012 | Notícia | Revista Arquitetura & Aço – Edição 30