Produto está há mais de 30 anos no Brasil e não atingiu seu potencial de vendas, previsões, entretanto, são otimistas.
Os vidros duplos, também conhecidos como vidros insulados, correspondem a apenas 0,3% de todo vidro plano consumido no Brasil, segundo pesquisa realizada junto a 60 indústrias do setor vidreiro, elaborada pela GPM Consultoria Econômica e contratada pela Associação Brasileira de Distribuidores e Processadores de Vidros Planos (Abravidro). O produto já é comercializado por aqui há muitos anos porém, centenas de fabricantes queixam-se por amargar capacidades ociosas de produção. As novidade nesse ramo são duas: A norma para eficiência energética (ISO 50001) de abrangência mundial e, no Brasil, o conjunto de normas que estabelece requisitos obrigatórios para alguns sistemas de edificações, inclusive para o isolamento acústico.
ISO 50001
O objetivo da ISO 50001 é definir os requisitos para um Sistema de Gestão da Energia (SGE) que permita às organizações estabelecer os sistemas e processos necessários para melhorar o seu desempenho energético global. Isso inclui a utilização, consumo e eficiência energética. A norma inclui também um anexo informativo com orientações de como implementar eficazmente este referencial.
O objetivo principal da norma é a redução de custos com energia. Assim como as ISO 9001 e 14.001 essa também será referência ao mercado e irá diferenciar as empresas preocupadas com a eficiência energética das demais. Trata-se, portanto, de uma promessa para o aumento do consumo de vidros duplos, que ajudam a reduzir o consumo de energia elétrica por barrar o calor com o maior aproveitamento da luz natural (de maior eficiência energética).
NORMA DE DESEMPENHO
A NBR 15575-4, ou Norma de Desempenho é como ficou mais conhecida. A questão acústica é um dos itens mais aplaudidos e propõe a vedação do som por meio de janelas, paredes e pisos. Trata-se de mais uma chance para que os vidros duplos (ou insulados) possam aumentar sua participação no mercado de janelas, fachadas e divisórias.
A maior preocupação dos construtores com essa questão acústica poderá facilitar a oferta e a comercialização dos vidros duplos, que são bastante procurados por suas propriedades de barrar a passagem do som. Sobre essa questão acústica, inclusive, existe um debate antigo sobre a eficiência desse produto como atenuador em comparação com os vidros laminados. A verdade é que em determinadas frequências o laminado leva vantagem realmente.
O mais correto, entretanto, considerando o modelo mais básico do vidro duplo, seria considerá-lo um vidro termo-acústico. Um dos fatores que motivou a criação da Norma de Desempenho foram as constantes reclamações feitas por usuários de imóveis recém-adquiridos com o desconforto gerado pelos ruídos, fossem eles da área externa, da rua, dos vizinhos ou dos equipamentos dos próprios edifícios.
A Norma de Desempenho deixa claro de quem são as responsabilidades de todos os envolvidos na construção, desde o projetista até o consumidor final, que tem a obrigação de conservar as qualidades realizando manutenções periódicas para que o imóvel alcance a durabilidade prevista em contrato. Os fabricantes de vidros duplos, entretanto, precisam ficar antenados, pois têm como concorrentes os vidros laminados, que também divulgam suas propriedades acústicas. Alguns fabricantes de janelas, inclusive, já oferecem seus produtos com vidros laminados já instalados.
OUTRAS OPORTUNIDADES
Os produtores de vidros insulados já tiveram outras oportunidades de alavancarem suas vendas, mas por vários motivos (alguns citamos nesta reportagem) o produto não conquistou a preferência do consumidor como esperado. A primeira foi com a disseminação das janelas feitas com PVC, há aproximadamente 30 anos, que anunciavam o isolamento acústico como uma de suas principais qualidades e utilizavam os vidros duplos em sua composição. Depois de alguns anos do produto sendo ofertado por dezenas de fabricantes, houve uma acomodação de mercado.
Terminada a euforia inicial, vários fabricantes se dedicaram a outras atividades e atualmente o setor de esquadrias de PVC se mantém estável com poucos fabricantes se dedicando exclusivamente a ela. A onda verde, iniciada há 20 anos e que se mantém atualmente foi outra oportunidade para os vidros duplos. Por oferecerem maior isolamento térmico e acústico com aproveitamento total da iluminação natural o produto deveria figurar no topo das opções de envidraçamento preferidas dos ecologistas e, mais anda, daqueles que querem fazer economia de dinheiro em energia elétrica.
Roberto Papaiz, diretor do Eurocentro e da AluService enfatiza: “Essa propriedade de economizar energia elétrica é o ponto vencedor do produto que o mercado ainda não assimilou, na Europa há uma obrigação de instalar produtos com eficiência energética, não temos ainda lei e normas para isso então o mercado opta pela economia de investimento a curto prazo, deixando o problema de pagar a conta a longo prazo para o usuário.” Esse fato ganha maior importância se levarmos em conta a previsão de que o custo da energia elétrica irá dobrar em 5 ou 10 anos.Recentemente, tivemos também nas grandes cidades brasileiras a conscientização de que os cidadãos tinham direito ao silêncio. Diversas leis municipais e estaduais, denominadas popularmente como “Lei do Psiu”, foram criadas para garantir esse direito e igrejas e casas de shows tiveram de se adequar instalando janelas, divisórias e portas acústicas em seus estabelecimentos.
O QUE FALTA
Falta exigência e conhecimento do consumidor sobre as vantagens do produto. Na opinião de Edison Claro de Morais, diretor da AtenuaSom, empresa produtora de janelas acústicas paulistana, o que falta para o ramo decolar é somente conscientização e maior empenho dos fabricantes em investir na divulgação desse produto. “Temos uma grande oportunidade nas mãos, um produto acústico e térmico sendo que a questão térmica é a segunda maior reclamação das habitações, nossas casas são frias no inverno e quentes no verão e a falta de conhecimento e falta de iniciativas fazem com que o produto não decole”, completa. A realidade é que são poucos os produtores que se dedicam exclusivamente a essa atividade. E por não terem o foco nesse produto acabam por não darem a devida importância a ele, divulgando- o pouco ou indevidamente. A maioria mantém uma pequena linha produtiva, que não ocupa muito espaço dentro da fábrica, mesmo com ociosidade de produção. Quando surgem pedidos ela desloca funcionários de outro setor para atendê-los
OPORTUNIDADES
De tempos em tempos, as oportunidades de oferta desse produto surgem e geram bom volume de receitas, como foi o caso do Grupo Paris, localizado no Rio de Janeiro, que concluiu a fachada de um edifício de 19 andares com o produto. A empresa carioca de vidros e esquadrias forneceu 20 mil m² de vidros duplos para a sede da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que foi inaugurado em 2013. A assinatura de Niemeyer no projeto e a utilização de materiais de qualidade na obra fazem com que o prédio tenha um alto valor agregado. Durante a construção, houve uma preocupação com o conforto acústico do edifício, que está localizado na Praia de Botafogo, ao lado do prédio atual da FGV. Os vidros são duplos refletivos fumê de 31 mm; e as esquadrias são acústicas, proporcionando um conforto termo acústico maior para o edifício. Para a instalação, o Grupo Paris contou com uma equipe fixa de 20 homens que trabalharam na obra entre o período de março de 2013 e junho de 2013. Para homenagear o arquiteto, a FGV batizou o prédio com o nome: Torre Oscar Niemeyer.
VIDRO PARA O CALOR
Algumas barreiras foram vencidas com o uso constante dos vidros duplos. A primeira era o conceito popular de que estes eram vidros que atendiam melhor aos países de clima frio. Para reforçar essa teoria há menos de uma década atrás os maiores consumidores eram realmente países de clima frio como Noruega, Finlândia e Alemanha. Atualmente, entretanto, os maiores consumidores são os países árabes, que possuem altas temperaturas e a China, que possui várias regiões de clima quente. A Support Glass, empresa que representa uma linha de janelas acústicas de PVC, inclusive, promove palestras técnicas para explicar as vantagens de utilização de janelas com vidros duplos em regiões brasileiras de clima quente. Na Itália, que também possui regiões quentes, há mais de 30 anos são usados vidros duplos e nos últimos 20 as autoridades não concedem o habite-se a uma obra que não o utilize.
LINHA DE PRODUTOS
A versão mais simples de vidros duplos é composta de duas lâminas de vidros transparentes comuns e finos, separadas por uma camada de ar dotada de espaçador com pouco mais de uma polegada de distanciamento e dissecante para manter o ar interno seco e livre de umidade. É bom lembrar, entretanto, que a família de vidros duplos é bem ampla e pode chegar a níveis extremamente sofisticados, como as versões utilizadas em alguns aeroportos, dotados de camadas triplas de vidro, maior distanciamento entre eles e utilização de vidros de controle solar laminados. Um dos integrantes dessa família merece destaque por ser o vidro com melhor desempenho em qualquer situação: os vidros duplos compostos por persianas internas. Tal produto possui uma persiana hermeticamente inserida e acionamento magnético. Tais vidros (se ainda podem ser chamados de vidros) permitem o controle térmico, acústico e de luminosidade. O Eurocentro foi pioneiro na implantação desse produto no Brasil, com a marca Screen Line e fabricado pela AluService no Brasil. A empresa divulga que, com esse sistema de proteção solar, pode-se reduzir o calor em 90% e a incidência luminosa pode ser reduzida até 95%. A versão mais moderna, inclusive, permite o black-out total do ambiente interno. No Brasil há atualmente mais de 120 mil M2 de persianas insuladas ScreenLine. As características técnicas desse produtos garantem absoluta proteção contra sujeira, pó e agentes atmosféricos, dispensando qualquer manutenção. A Cidade Administrativa de Minas Gerais, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, é o complexo que mais utilizou vidros duplos com persianas embutidas, mundialmente. Concluída no ano de 2010, a obra utilizou mais de 30 mil M2 de persianas magnéticas ScreenLine modelo SL20H. Nessa obra, o Eurocentro forneceu as persianas com os vidros da Glassec Viracon.
AGILIDADE
Em seu material publicitário, a Termosom, uma das empresas pioneiras desse segmento, que atua desde 1984 exclusivamente com o vidro duplo, destaca a agilidade da produção como um fator competitivo. “Enquanto o laminado está na autoclave, o insulado já pode estar instalado”, informa o material publicitário divulgado pela empresa. Outras qualidades apresentadas, além dos aspectos térmicos e acústicos, é o fato de o produto poder receber, no interior da câmara hermética, elementos decorativos como pinásios, cortiças, esferas de vidro e outros. A Divinal Vidros, por sua vez, destaca em seu site a capacidade de produzir peças com grandes dimensões e a possibilidade de utilização no produto de todos os vidros que comercializa, incluindo impressos, refletivos, Low-E, serigrafados, coloridos, laminados, laminados acústicos, laminados de temperados e outros. A utilização de vidros temperados ou serigrafados (que também são temperados) na camada externa, inclusive, foi aplicada com sucesso em algumas coberturas e fachadas. A experiência demonstrou que essa composição garante maior resistência mecânica contra impactos de todo tipo de material. Uma possibilidade sofisticada é a utilização de vidro Low-E com aquecimento por eletricidade em face 2 (interna), o que transforma o produto em visores anti-embaçantes para ambientes úmidos como banheiros e saunas.
GÁS INTERNO
Ainda não é uma prática muito comum no Brasil, porém, uma maneira de melhorar o desempenho de isolamento dos vidros duplos é substituir o ar no espaço por uma condutividade térmica mais baixa por meio de gás. A transferência de calor por convecção a gás é uma função da viscosidade e calor específico. Gases monoatômicos, tais como argônio, criptônio e xenônio são muitas vezes utilizados, uma vez que (em temperaturas normais) eles não carregam o calor nos modos de rotação, resultando em uma capacidade de calor 50% ou até 60% inferior.
ESPECIFICAÇÃO
Uma dificuldade que permanece até os dias de hoje é quanto à especificação dos vidros duplos mais adequados para cada situação. Hoje, por exemplo, o consumidor ou arquiteto informa que quer reduzir a passagem de som do ambiente externo para o interno em 4 decibéis e o fornecedor irá então indicar esquadrias acústicas e vidros duplos e tentará bloquear a quantidade solicitada na base de sua experiência e da “tentativa e erro”. Dependendo do caso, o fornecedor até supera essa solicitação, mas em outros fica devendo um ou dois decibéis. Tudo, porque as empresas brasileiras não dominam ainda a metodologia para especificação precisa desse produto.
A atual situação, entretanto, está mudando. Um importante passo nesse sentido foi a inauguração recente do Laboratório de Ensaios de Acústica, localizado na sede da Atenua Som, em São Paulo. Edison explica sua utilidade: “O laboratório acústico foi o resultado de uma necessidade que tínhamos em conhecer a performance e, com isso, promovermos a melhoria de nosso produtos – ele está sendo extremamente útil a fabricantes de esquadrias, sejam de alumínio, PVC, madeira ou ferro; fabricantes de vidros; arquitetos ou consultores que precisam especificar produtos adequados; construtoras que precisam atender às exigências de seus clientes; entidades do segmento; sistemistas; fabricantes de acessórios e outros.
” O laboratório é equipado para permitir a análise de um conjunto composto por esquadrias e vidros, indicar sua capacidade de bloquear o som e até mesmo indicar, por meio de imagens fotográficas, por onde o som está passando.