Tensoestruturas, pisos flutuantes, assentos removíveis, LEDs e estruturas metálicas. Fique a par dos avanços nas tecnologias para obras esportivas que despontam nos projetos das arenas programadas para a Copa e Olimpíada

O momento nunca foi tão favorável para o aperfeiçoamento e consolidação da indústria brasileira de tecnologias para obras esportivas. A Copa do Mundo (2014) e os Jogos Olímpicos (2016) têm gerado demanda suficiente para alavancar desenvolvimentos e estimular a produção de produtos com maior valor agregado. Se no passado a preferência era apenas pelo sistema de menor preço, agora outros quesitos também são valorizados na escolha das soluções a serem adotadas. Os principais são flexibilidade, conforto e sustentabilidade.

“Esses eventos certamente trazem novas tecnologias para a área de projetos esportivos, desde a especificação do gramado de jogo, até a iluminação do campo, passando por cadeiras para público e coberturas em membranas tensionadas”, comenta o arquiteto Sérgio Coelho, diretor do GCP Arquitetos, responsável pelo projeto da Arena Cuiabá, em Mato Grosso.

“Se compararmos os estádios que estão sendo construídos atualmente com os antigos estádios brasileiros, notam-se muitos avanços, especialmente na área de recursos audiovisuais, iluminação e assentos”, acrescentam Gisele Gass e Dan Meis, arquitetos do Populous, escritório internacional responsável pelo projeto do estádio das Dunas, em Natal, ao lado do brasileiro Coutinho, Diegues, Cordeiro.

Coberturas

Se no passado, em função do custo, as coberturas costumavam ficar relegadas a segundo plano, hoje chega a ter mais evidência do que a própria fachada. Os arquitetos têm explorado a funcionalidade e plasticidade do elemento que, aos poucos, abandona as formas retas, rígidas e pesadas, para assumir desenhos curvos possibilitados pelos tecidos tecnológicos que compõem as membranas tensionadas de alta resistência.

As tensoestruturas ganham espaço por permitirem variadas formas, cores e graus de translucidez. E, pelo baixo peso, são adequadas também para os tetos retráteis.

As telas usualmente empregadas em construções esportivas são as de poliéster revestido de PVC, as de PTFE (politetrafluoretileno) combinado com fibra de vidro e os filmes de ETFE (etileno tetrafluoretileno). Todos esses materiais são capazes de vencer grandes vãos. O ETFE, em especial, ganhou fama nos últimos anos após a aplicação na Allianz Arena, em Munique, na Alemanha, projetado pelo escritório suíço Herzog & de Meuron.

Nem o PTFE, nem o ETFE já foram utilizados em edificações esportivas concluídas no Brasil. Mas há alguns planos de aproveitamento desse material, como na Arena Amazônia, em Manaus. O estádio amazonense terá revestimento da cobertura parcialmente translúcido e parcialmente opaco. Na parte translúcida a cobertura na forma de lentes ovais será feita de fibra de vidro com PTFE ou filme ETFE que serão sustentados por uma estrutura de aço.

Uma inovação que pode impulsionar o uso das tensoestruturas no Brasil é o revestimento de dióxido de titânio sobre as membranas, que forma uma superfície autolimpante reduzindo a necessidade de manutenções periódicas.

A cobertura do Estádio da Cidade de La Plata, na Argentina, foi inaugurada no início de 2011 para a realização de jogos da Copa América. Sua cobertura tensionada parcialmente translúcida é composta por membranas de fibra de vidro recobertas com PTFE (politetrafluoretileno). Para acomodar a geometria não-convencional do estádio, a estrutura da cobertura foi executada com cabos de aço tensionados em três níveis, junto com colunas verticais. Para melhorar a capacidade de suportar cargas, o sistema tira partido da triangulação dos cabos de aço até formar uma abertura central em forma de oito.

Pisos

Definir pisos para espaços esportivos envolve muito mais do que uma comparação custo-benefício e a análise de fatores como estética, durabilidade e facilidade de execução. A especificação deve levar em consideração a influência do piso sobre o esporte praticado, além da preservação física dos atletas que utilizam essas superfícies de forma repetitiva e intensa. Por isso os projetistas também consideram parâmetros como amortecimento de impactos, resiliência e taxa de deslizamento.

O desafio é maior em ginásios onde a área de jogo normalmente é utilizada para a prática de diferentes modalidades. “Nesses casos, um dos critérios para a escolha do piso é a homologação do material e dos fornecedores pelas diversas federações internacionais”, revela o arquiteto Celso Grion, diretor da Effect Arquitetura. Outra opção é empregar sistemas que garantam a flexibilidade na utilização do espaço. “Revestimentos flutuantes de madeira compostos por placas desmontáveis, por exemplo, semelhantes aos utilizados nos jogos da NBA (liga de basquetebol norte-americana), são a grande inovação desse segmento”, cita Grion.

Para garantir segurança e conforto é importante tratar bem a base, especificando corretamente o sistema de drenagem. “Muitas vezes coloca-se o piso correto, mas o que está errado é a base”, alerta a arquiteta Patrícia Totaro.


Certificada pela Federação Internacional de Atletismo (IAAF) como Classe 1, a pista de atletismo do Estádio Ícaro de Castro Mello, em São Paulo, foi concebida para que os atletas possam bater recordes. Executada sobre uma base asfáltica, a pista é composta por mantas de borracha SBR (butadieno-estireno) sobre as quais são aplicadas camadas de poliuretano especial e de resina poliuretânica autonivelante com grânulos de borracha EPDM (etileno-propileno-dieno). O arquiteto Celso Grion, responsável pelo projeto de reforma do estádio, conta que essa tecnologia, de origem alemã, é utilizada em todo o mundo sem apresentar problemas com relação a fatores climáticos ou aos esforços a que uma pista de atletismo é submetida.

Assentos

A expectativa é a de que mais de um milhão de assentos sejam instalados em arenas e estádios da Copa (2014) e Olimpíada (2016). E há uma série de requisitos mínimos que os assentos precisam atender para se adequar às exigências desses grandes eventos. Para a Copa do Mundo, por exemplo, a FIFA exige uma especificação que extrapola as recomendações da norma brasileira sobre o uso de assentos plásticos para estádios e lugares públicos não cobertos (NBR 15.476). Nos projetos para a Copa, o vandalismo deve ser evitado com o uso mínimo de partes de fixação e elementos aparentes, especialmente metálicos.

Para as arquibancadas, os mais recomendados são os assentos rebatíveis que funcionam por contrapeso ou molda de torção. Esses assentos têm a vantagem de ocupar menos espaço quando não utilizados, facilitando a circulação e a saída de espectadores tanto em condições normais de uso quanto em condições de tumulto.

Mas a principal inovação são os assentos removíveis. “Esse tipo de solução, com a flexibilidade da capacidade das arenas evita a construção de equipamentos que podem ficar subutilizados após esses grandes eventos”, comenta o arquiteto Sérgio Coelho, do GCP Arquitetos.

Em Londres, assentos removíveis permitirão que, após os Jogos Olímpicos, a arena de handebol possa ser transformada em uma casa de espetáculos e o Estádio Olímpico, que receberá as cerimônias de abertura e encerramento, tenha sua capacidade reduzida de 60 mil para 25 mil pessoas.

No Brasil, a flexibilidade foi levada ao máximo no projeto da Arena Pantanal, em Cuiabá (MT). Parte das arquibancadas poderá ser desmontada para que o estádio possa ser utilizado também como centro de convenções, palco para shows e feiras. A nova arena, com projeto criado pelos arquitetos do escritório GCP, inicialmente irá comportar 42 mil pessoas. Com a desmontagem de dois setores, a capacidade do estádio é reduzida para 28 mil pessoas. A conceituação estrutural foi feita com o escritório de engenharia SKM de Londres, mas a tecnologia necessária é local. Foram especificadas cadeiras com assentos rebatíveis de 50 cm de largura de eixo a eixo, como recomendado pela FIFA (veja desenhos abaixo) e de acordo com a nota técnica de prevenção contra incêndio e pânico.

Iluminação

O primeiro objetivo do sistema de iluminação de estádios e arenas esportivas voltadas a grandes eventos é promover níveis de iluminamento suficientes para permitir a transmissão digital televisiva com qualidade sem criar sombras, ofuscamento e problemas para identificação dos atletas e do espetáculo. Além disso, a iluminação deve criar um ambiente agradável para os espectadores, sem prejudicar entorno e vizinhança.

Os desenvolvimentos de produtos também seguem na direção de assegurar maior capacidade de iluminação com menor quantidade de luminárias, o que significa redução de custos, de consumo de energia e de manutenção. A ideia é oferecer o máximo de eficiên­cia óptica com o mínimo de perdas. “Muitos fornecedores internacionais estão buscando parcerias com fornecedores nacionais para viabilizar os custos de luminárias, principalmente as peças com a tecnologia led”, revela a arquiteta Luciana Constantin, lighting designer da Acenda, atualmente envolvida em cinco projetos de estádios, quatro deles para a Copa 2014.

Para os lighting designers, um dos grandes desafios para a transmissão em alta definição de vídeo nos estádios são as linhas de sombras. Uma das estratégias para eliminar esse problema, ou minimizá-lo ao máximo, tem sido a interpolação de zonas pelos refletores. Outro desafio é a especificação das lâmpadas que deve levar em conta a luminosidade de saída, tempo de vida, consumo de energia, índice de reprodução de cores e temperatura de cor.

Há, ainda, os orçamentos limitados. Luciana Constantin conta que, para superar isso, uma das estratégias tem sido utilizar tecnologias tradicionais, como lâmpadas fluorescentes e de descarga, na maioria dos ambientes internos, deixando uma folga orçamentária para viabilizar o uso do led em áreas externas, onde os critérios de poluição luminosa são mais rigorosos.

Construída para a Copa do Mundo de 2010 e projetada pelos arquitetos do escritório alemão GMP, a arena multiuso de Durban, na África do Sul, tem uma estrutura de cobertura com 46 mil m² de membrana em PTFE pré-tensionada sobre uma malha de cabos, além de um arco de aço tubular iluminado com faixas de leds. Pelo projeto de iluminação do estádio, sob responsabilidade do também alemão Conceptlicht, a obra recebeu o principal prêmio de lighting design da Alemanha, na categoria projetos internacionais.

Mais de 430 luminárias e sistemas de controle computadorizados proporcionam efeitos dinâmicos de iluminação. Entre os equipamentos destacam-se os projetores com sistemas ópticos que possibilitam o máximo de flexibilidade para fachos abertos e fechados e utilizam lâmpadas compactas. Para garantir uma distribuição uniforme da luz sobre a cobertura, toda a área a ser iluminada foi dividida em três faixas de iluminação com sobreposição de áreas.

Iluminação: ensaios para estádios

Pesquisadores do Laboratório de Equipamentos Elétricos e Ópticos do IPT criaram uma instalação especial para a execução do primeiro ensaio no Instituto em um projetor de iluminação direcionada para grandes estádio.

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Estrutura

Os cronogramas apertados dos megaeventos esportivos e a preocupação com a sustentabilidade criam oportunidades para a utilização de sistemas construtivos industrializados. Esse é o caso das estruturas metálicas, presentes nas arenas esportivas tanto como estrutura principal, quanto para suportar coberturas. Dos doze estádios brasileiros que sediarão jogos do campeonato mundial de futebol, ao menos sete contam com o aço como elemento estrutural.

Em tempos de preocupação com o impacto ambiental das construções, a reciclabilidade do aço e a possibilidade de desmontar e reaproveitar as peças metálicas acabam induzindo a opção por esse tipo de solução. “O aço é insubstituível em edificações de grande porte como em arenas, estádios e centros esportivos por suas qualidades naturais de obra com tecnologia limpa e por permitir inovações compatíveis com a contemporaneidade do século 21”, comenta o arquiteto Siegbert Zanettini.

                                 

Para atender a esse mercado, a indústria produtora de aço vem ampliando a oferta de produtos para a construção metálica. Da mesma forma, especialmente para a cobertura e revestimento de fachadas, aumenta a gama de opções de acabamentos e tratamentos adicionados ao aço, da galvanização à pré-pintura.

O ginásio poliesportivo construído em Medellín, na Colômbia, apresenta-se como mais uma montanha na paisagem da cidade. A plasticidade e leveza da construção concebida pelos arquitetos Felipe Mesa e Giancarlo Mazzanti para os Jogos Sul-Americanos de 2010 se devem em grande parte à estrutura modular de aço.

Composta por um sanduíche formado por placa de fibrocimento, manta de impermeabilização e chapas metálicas pintadas em tons variados de verde, a cobertura é estruturada por treliças metálicas e vigas de caixa paralelas apoiadas nos pilares de concreto das arquibancadas. Pilares tubulares distribuídos na periferia do edifício complementam a estrutura, formando corredores externos.

Fonte:

Revista Au / Ambiente e Energia